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Michael Schumacher e a mídia jornalística: limites entre o público e o privado

Ex-piloto alemão, que se recupera de um grave acidente sofrido em 2013, é constantemente alvo de especulações envolvendo seu estado de saúde. Família opta por silêncio e cria conflito de interesses com os veículos de comunicação


Suelen Oliveira



(Imagem: Reprodução)


Michael Schumacher, detentor de 7 títulos mundiais de Fórmula 1, 91 vitórias e 68 poles. Esses são apenas alguns dos números da impressionante carreira de um dos maiores atletas da história. Schumacher iniciou sua trajetória em 1991 pela equipe Jordan, mas foi pela Benetton que ele conquistou seus dois primeiros títulos, nos anos de 1994 e 1995.


No entanto, seria com o vermelho da Ferrari que ele alcançaria as maiores glórias no esporte. O início dos anos 2000 foi marcado por um domínio sem precedentes na Fórmula 1, culminando com a sequência de 5 títulos de pilotos e de construtores. Schumacher e a Scuderia do “Cavallino Rampante” se tornaram símbolos de sucesso e excelência, além de propagarem pelo mundo a enorme paixão dos “Tifosi” – como são conhecidos os fanáticos fãs da Ferrari.


Ao final da temporada de 2006, Schumacher se aposentou da categoria, mas a pausa na carreira durou apenas até o ano de 2010. A convite da igualmente alemã Mercedes, ele fez seu retorno para a modalidade que o consagrou, porém sem obter os mesmos êxitos de outrora. Sendo assim, a segunda e definitiva aposentadoria se deu ao fim de 2012.


Dessa maneira, o alemão estava oficialmente livre dos compromissos esportivos e midiáticos que uma carreira profissional exige. Dono de uma fortuna acumulada em pouco mais de 20 anos, poderia finalmente desfrutar dos prazeres da vida ao lado de sua família e amigos. Michael é casado com Corinna e tem dois filhos, Mick e Gina.


Entretanto, o destino não poderia ter sido mais cruel. No dia 29 de dezembro de 2013, Schumacher sofreu um sério acidente de esqui, em Méribel, nos alpes franceses. Investigações posteriores realizadas pelas autoridades locais concluíram que Michael perdeu o controle do esqui e bateu fortemente com a cabeça em uma pedra. As informações iniciais deram conta de que o ex-piloto havia sofrido um forte traumatismo craniano e sua condição era crítica.


Quase 8 anos após esse incidente, pouco ou quase nada se sabe sobre o estado clínico de saúde do alemão. Em uma decisão da família, capitaneada por Corinna, em conjunto com a assessoria de imprensa na figura de Sabine Kehm, foi decidido preservar ao máximo a privacidade de Michael, com comunicados oficiais cada vez mais raros e sem oferecer maiores detalhes.


(Imagem: Reprodução)


Naturalmente, o interesse da mídia e dos próprios fãs sempre foi enorme. Os questionamentos mais comuns são: “Como ele está?” “Ele consegue respirar sozinho?” “Ele é capaz de se comunicar?”. Até o momento, nenhuma dessas questões foi respondida e a vida de Michael virou um mistério sem fim. A falta de informações criou um campo fértil de especulações, com notícias falsas e sensacionalistas sendo publicadas nos veículos de comunicação. Rumores sobre perda de peso, que ele estava paralisado e que não conseguia falar jamais foram confirmados.


Paralelamente a isso, situações mais graves aconteceram na tentativa de obter alguma notícia relevante. Em 2014, um funcionário de uma empresa de ambulâncias aéreas foi preso, pois era suspeito de ter roubado o prontuário médico de Schumacher durante um processo de transferência. As investigações sobre o caso apontam que o homem - de identidade não revelada - pretendia vender o relatório aos meios de comunicação da Alemanha e da Inglaterra.


Além disso, houve a inacreditável tentativa de um jornalista disfarçado de padre em visitar Michael quando ele estava internado no hospital de Grenoble. Mais recentemente, a casa da família em Genebra, na Suíça, foi invadida e fotos de Schumacher foram colocadas à venda por, aproximadamente, R$ 5,5 milhões. Segundo representantes legais da família, as fotos “violam a vida pessoal” de Michael.


Essas situações expostas, que convergem perigosamente para atuações criminosas, criaram uma relação de insegurança e desconfiança entre a família de Schumacher e a imprensa. Sabine Kehm, a assessora de longa data do heptacampeão, atua de forma irredutível em blindar a família e em limitar as informações vazadas ao público. Com efeito, no intuito de desestimular qualquer tentativa de divulgação de notícias inverídicas, os advogados estão sempre a postos para despachar processos envolvendo multas e indenizações.


“Michael sempre nos protegeu, agora estamos protegendo Michael. Estamos vivendo nossas vidas, ‘privado é privado’, como ele sempre disse. É muito importante para mim que ele possa continuar a desfrutar de sua vida privada o máximo possível.” (Corinna Schumacher)

Posto isso, dois lados estão frontalmente opostos nessa história. De um lado a família do heptacampeão, que exige privacidade e respeito pela atual condição clínica de um ente querido. E do outro, a mídia jornalística que tem por finalidade jogar luz aos fatos que interessam a sociedade. Kehm, em uma das poucas entrevistas concedidas reforça a necessidade de preservar a vida particular do ex-piloto: “Cada palavra provocaria novas exigências; seria como um farol para novas informações. Nunca chegaria ao fim.”


Depreende-se que o fundamento principal do jornalismo consiste em informar. Fornecer ao público uma seleção de informações relevantes, devidamente apuradas e com procedência comprovável. No mais, a livre circulação de informações decorre da liberdade de imprensa, um direito inalienável de qualquer democracia e que também é abraçado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos no art. 19º, que explicita:


“Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.”


Faz-se imprescindível ressaltar, porém, que esse debate é muito mais profundo. Enquanto cidadãos, vivemos sob a égide de um conjunto de regras para usufruirmos dos direitos. Dessa forma, a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos ressalta que nenhuma disposição dos direitos estabelecidos pode ser usada como justificativa para ferir ou deturpar os direitos de terceiros.


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