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Perguntar sempre, atacar jamais

Como resolver o conflito entre técnicos de futebol e jornalistas esportivos


Pedro Gadelha


Legenda: Oswaldo de Oliveira discute com jornalistas (imagem: site Globo Esporte)


Nos últimos anos, o futebol brasileiro vem sendo marcado por uma relação conturbada e cada vez mais distante entre a mídia tradicional e o mundo esportivo, especialmente com treinadores. Cuca, Jorge Jesus, Vítor Pereira, Mano Menezes, Eduardo Baptista, Felipão: a lista é extensa e prossegue por muitos nomes. Tal crescente distanciamento entre jornalistas e técnicos gera uma perda grande de qualidade na cobertura dos campeonatos e prejudica o trabalho da imprensa como um todo.


Diferentemente de como acontecia em outras décadas, hoje as trocas entre repórteres e treinadores são baseadas nas relações pessoais entre eles. Quem conta isso é o jornalista André Kfouri, da ESPN: “Há alguns anos, os contatos entre repórteres e técnicos eram muito mais frequentes ao longo de uma semana. Você podia conversar com eles de maneira particular. O que aconteceu ao longo do tempo foi que a cobertura diária dos clubes passou a ser feita por muito mais gente e os times tiveram que se organizar. Aí, vieram as regras que nós vemos hoje com as entrevistas coletivas. Os técnicos falam menos vezes e esse contato foi se tornando mais frio e mais distante”.


Nesse contexto, o afastamento desses dois lados do futebol criou um ambiente hostil, no qual um vê o outro como oposto, embora não sejam. Muito pelo contrário, ambas as partes são essenciais para a realização das partidas e dos campeonatos, tanto as pessoas envolvidas na cobertura do evento, quanto os personagens do jogo em si. Além disso, um necessita do outro para desempenhar suas funções, uma vez que, sem os técnicos e jogadores, não há jogo, e, sem a mídia, o público é impossibilitado de assistir à partida e as suas repercussões, o que apenas evidencia a importância da cooperação entre ambos. Porém, como tornar a convivência pacífica?


É normal haver certo atrito entre os técnicos e os repórteres. Afinal, o meio jornalístico exige uma visão questionadora. Contudo, é importante ressaltar que ser crítico não significa ser desrespeitoso e é preciso se atentar a essa diferença. “Ultimamente tem sido muito raro você perceber perguntas difíceis sendo feitas com respeito. Não só porque elas são feitas sem respeito, como às vezes os técnicos entendem uma pergunta difícil, como um desrespeito, mesmo tendo sido feita de uma maneira inteiramente justa. Muitas vezes, as perguntas são vistas como críticas e as críticas são vistas como ofensas e na, enorme maioria das vezes, não são", conta Kfouri.


Em outubro do ano de publicação desta reportagem, Abel Ferreira, comandante da equipe do Palmeiras, quando perguntado em uma entrevista coletiva sobre a mentalidade de seu time, respondeu com a seguinte frase: “É por isso que eu sou o treinador e vocês são os jornalistas”. Nos dias seguintes à coletiva de imprensa, o técnico alviverde admitiu ter entendido errado a pergunta e pediu desculpas ao repórter. No entanto, o caso serve como exemplo para um mau entendimento entre as duas partes.


Buscando uma solução para esse dilema, André Kfouri afirma que os jornalistas devem trabalhar com seriedade e nunca deixar de perguntar o que deve ser perguntado, mas sempre mantendo o respeito com o entrevistado. Além disso, complementa: “Esse é o equilíbrio que deve ser encontrado. Se houver a possibilidade de estreitar a relação, as pessoas se conhecerem melhor, o trabalho também vai ser feito de maneira menos complicada.”



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