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Laerte: além da arte

Atualizado: 14 de dez. de 2022

Conheça um pouco da trajetória de Laerte Coutinho e sua relação com o jornalismo


Daniel Haiut

Em foto, vemos Laerte Coutinho. (imagem: reprodução/Youtube)


Laerte Coutinho, nascida em 1951, em São Paulo, é considerada uma das maiores cartunistas e quadrinistas brasileiras. Apesar de toda a sua humildade, que a faz dizer que não considera o que faz arte, Laerte é sim uma das maiores artistas brasileiras da atualidade. O fato é comprovado pelos diversos prêmios conquistados, como o Vladmir Herzog na categoria Arte nos anos de 2014 e 2020. Apesar de tantos prêmios na estante, foi na primeira edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, com a ilustração “O Rei estava vestido”, crítica fervorosa à ditadura vigente no Brasil, que Laerte teria seu primeiro trabalho premiado.

“O rei estava vestido”, que deu a Laerte o prêmio na primeira edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. (ilustração: reprodução/Laerte)


A homenageada do ano pela Comic Con Experience 2022, em São Paulo, tem uma carreira consolidada em grandes veículos de comunicação, tendo publicado charges e tiras (ela não gosta de usar o diminutivo “tirinhas”) na Folha de S. Paulo, no Estadão, no Correio Braziliense e na Gazeta Mercantil, criando uma relação entrelaçada com o Jornalismo brasileiro. Ela inclusive cursou parte do curso de jornalismo na USP. Mesmo não terminando a graduação, certamente Laerte impactou, e muito, os jornais brasileiros com seus trabalhos.


Em tira, Laerte questiona a noção de liberdade com base no sistema social em que vivemos. (ilustração: reprodução/Laerte)


Além de trabalhar com diversos jornalistas durante a sua carreira, Laerte tomou frente de um programa de entrevistas que foi ao ar em 2015, “Transando com Laerte”, que possui quatro temporadas de conversa da artista com nomes como: Liniker, Jout Jout e Cláudio Paiva.


Com uma produção genial e extremamente crítica à realidade que nos envolve, Laerte considera o trabalho que faz tão claro e simples, quanto obscuro.

“As ideias vêm de regiões muito variadas e passam por processos sinuosos até se plasmarem num roteiro nítido e desenhável. Muitas vezes começo com um tipo de intenção e acabo fazendo algo bem diferente”, conta a artista.

Em Charge, Laerte critica a exploração do proletariado em nossa sociedade capitalista. (ilustração: reprodução/Laerte)


Por falar de temas complexos, como violência policial, desigualdade social, a questão LGBTQIAPN+ e diversos outros temas ainda sensíveis à nossa sociedade brasileira, Laerte tem uma relação complexa com a censura. Para ela, se antes a censura era explícita, hoje é implícita, e muito mais complexa: “Censura é quando deixamos de expressar alguma coisa por medo. Na ditadura, era o medo de ir para a prisão ou ter o trabalho proibido de circular. Os agentes eram pessoas e instituições concretas, com escritório e crachá. Acho que, hoje, as coisas são mais sutis e complexas. Há aquilo que deixamos de expressar por medo (de “cancelamentos”, linchamentos morais, exposição, estigma, etc.) e há o que não expressamos por saber que se trata de uma impropriedade, uma manifestação de preconceito ou agressão de um tipo, que já foi visto como inocente e neutro. Há a censura econômica também, ligada ao medo de perder emprego, por exemplo”, analisa.


Durante o segundo turno das últimas eleições, no dia 30 de Outubro de 2022, com a suspeita de que a Polícia Rodoviária Federal estava impedindo eleitores de chegar às seções eleitorais, Laerte fez uma ilustração, defendendo o direito do voto e criticando a instituição:



Eleições 2022: Laerte critica as blitz ilegais da Polícia Rodoviária Federal no Nordeste durante o segundo turno. (ilustração: reprodução/Laerte)


Ao ser perguntada se já houve tentativa de algum jornal de a censurar, Laerte lembra de um fato, que aconteceu na Gazeta Mercantil:“Estávamos já no governo Sarney e um dos editores discordou de uma ideia de charge que eu mandei: era algo hostil à tal da Nova República, que era meio que xodó do jornal.Não guardei o desenho, infelizmente”, lamenta.


A quadrinista, que diz que estaria bem mais inquieta se estivesse começando sua carreira agora, fala do papel tanto do artista, quanto do jornalista para a situação política brasileira, e até mesmo mundial. Ela afirma que o papel das pessoas que trabalham nessas áreas é se manter conectado aos processos por que passa o povo, o país e o mundo, e, procurar atingir o melhor que puder dentro dos desafios que surgem.


Laerte é uma das maiores artistas brasileiras da atualidade, e continua produzindo a todo vapor, tendo, entre cartunistas e quadrinistas brasileiros, um dos maiores acervos com trabalhos seus, que a cada dia cresce mais, com obras cirúrgicas politicamente, engraçadas e até mesmo poéticas. A contribuição de Laerte tanto para os jornais brasileiros, como para a arte em si é inimaginável, e deve ser valorizada por todo brasileiro.


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