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Mulheres negras no jornalismo brasileiro

Os desafios que elas enfrentam, os exemplos de sucesso e os caminhos a serem traçados para conquistar esse espaço


Letícia Rafaela


As mulheres negras são o maior grupo demográfico do país, mas têm as piores condições no mercado de trabalho. Isso é o que mostra a pesquisa "Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho", realizada pela consultoria Indique Uma Preta, em parceria com a empresa Box1824. Olhando para o campo jornalístico, a tarefa de se inserir no mercado de trabalho é árdua e requer a quebra de diversas barreiras sociais.


Segundo a pesquisa "Perfil do Jornalista Brasileiro 2021", as mulheres são maioria nas redações (58%), porém ocupam menos cargos de gestão, saem mais cedo da profissão e ganham menos. Dessa forma, vê-se que a desigualdade de gênero, ainda presente no dia a dia do jornalismo brasileiro, é um grande obstáculo não só para a entrada das mulheres nas redações, mas também para o desenvolvimento de suas carreiras.


De acordo com a pesquisa feita pela consultoria Indique Uma Preta e pela empresa Box1824, existem quatro barreiras principais que impedem o avanço profissional das mulheres negras: formação e qualificação, conexão e acesso, diversidade genérica e medo de errar.


A primeira diz respeito ao mito de que as mulheres negras não possuem a formação necessária para ocupar as vagas que são ofertadas. Isso é assustador, visto que estudos mostram que as mulheres pretas e pardas são maioria nas universidades públicas (50,3%) e estão sempre se qualificando.


A pesquisa ainda aponta que 49% das mulheres negras já se sentiram desqualificadas profissionalmente, mesmo tendo toda a formação necessária para ocupar determinado espaço. As outras barreiras mencionadas acima só evidenciam as falsas construções e os impasses que se encontram no caminho profissional das mulheres negras.


Segundo dados do estudo "Perfil Racial da Imprensa Brasileira", realizado pelo Jornalistas&Cia, Portal dos Jornalistas, Instituto Corda e I’MAX, 52,3% das jornalistas negras que foram entrevistadas já foram vítimas de misoginia e racismo. É um contexto muito difícil, marcado por julgamentos, assédio sexual, descredibilização, entre outros.


Dentro de um panorama tão conturbado, as mulheres negras precisam lutar para conquistar seu espaço no cenário do jornalismo nacional. Temos grandes exemplos de algumas que batalharam e, assim, conseguiram dar passos importantes para o desenvolvimento da sua carreira profissional.


Glória Maria (Foto: Reprodução/TV Globo)


Glória Maria Matta da Silva, repórter, jornalista e apresentadora da televisão brasileira, é um desses grandes exemplos. Ela iniciou sua carreira de jornalista na Globo, em 1971, como estagiária no departamento de jornalismo. Rapidamente, ela se destacou, sendo protagonista na cobertura da queda do viaduto Paulo de Frontin, que matou 29 pessoas e feriu 18.


Glória Maria foi a primeira repórter negra da TV brasileira e a primeira a fazer uma participação ao vivo no Jornal Nacional. Além disso, ao longo de sua carreira, ela esteve presente em momentos únicos da história mundial, entrevistou grandes personagens e viajou para mais de 100 países. Sua história mostra como uma mulher negra, determinada, forte e guerreira, é capaz de alcançar grandes lugares no jornalismo.


Maria Júlia Coutinho (Foto: Reprodução/TV Globo)


Outro grande exemplo que temos é o da Maria Júlia Coutinho Portes, jornalista, apresentadora, comentarista, radialista e repórter brasileira. Maju começou como estagiária na TV Cultura, em 2005, e, lá, foi de repórter a âncora do Jornal da Cultura e do Cultura Meio-dia.


Em 2007, Maju chegou na TV Globo e voltou à função de repórter, fazendo entradas ao vivo nos telejornais locais de São Paulo. Após ter uma oportunidade, em 2013, Maju começou a apresentar o "Mapa Tempo" do Globo Rural e do Bom Dia Brasil, função na qual, no ano seguinte, ela se tornou titular. Pouco a pouco, Maju foi subindo os degraus em sua carreira. Foi titular da bancada do Jornal Hoje e a primeira mulher negra a fazer parte, de forma fixa, do corpo jornalístico do Jornal Nacional. Atualmente, é apresentadora titular, ao lado de Poliana Abritta, do programa Fantástico.


Histórias como essas nos mostram que é possível conquistar esses espaços, mas, também, o quanto é necessário lutar contra o sistema para isso. As mulheres negras se capacitam, se qualificam, mas, apesar disso, as raízes racistas presentes em nosso país ainda são um dos maiores entraves em suas trajetórias.


"A gente percebe cedo que a cor da pele faz diferença. Não é porque somos negros que nós somos inferiores, e nem superiores. Somos gente."

disse Glória Maria, durante um programa do Domingão do Faustão que foi ao ar em 06/01/2019. Infelizmente, ainda há uma lacuna muito grande entre os brancos e os negros em nosso país. Os olhares, as oportunidades, os espaços que são dados ainda são extremamente diferentes e, é por este motivo, que tudo isso precisa ser conquistado.


No início de sua carreira, ainda na TV Cultura, Maria Júlia Coutinho recebeu um prêmio muito importante: a menção honrosa no Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Ela lembra:


“Foi uma ideia simples, mas reveladora. Saí às ruas perguntando às pessoas qual era a cor da minha pele. Diziam tudo, menos que eu era negra. Quando perguntava por quê, algumas diziam que não queriam me ofender. Um jeito simples, mas contundente de mostrar o racismo”.

O jornalismo nacional está em constante mudança. A participação das mulheres negras é permitida, porém não é incentivada. Dessa forma, é necessário promover um ambiente acolhedor, livre de julgamentos, racismo, misoginia e tantos outros preconceitos, para que elas possam atuar neste mercado.


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