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Stephen A. Smith: O Rosto da ESPN Americana

Por João Rodrigues


(Stephen A. Smith / Imagem: Stacy Revere)


Nova-iorquino de corpo e alma, Stephen Anthony Smith é um jornalista e comentarista esportivo nascido no Bronx, vindo de uma origem humilde, ele cresceu no bairro Queens. É filho da falecida Janet Smith, denominada por ele “a melhor mãe do mundo”, e de um pai que Stephen reconhece que poderia ter sido melhor com ele. Com isso, algumas das diferenças que ele tem com seu pai o fizeram mais próximo de sua mãe.


Stephen não tirava boas notas na escola, era até ridicularizado pelas pessoas do seu bairro, que riam da cara dele, o chamando burro e coisas do tipo. Para ele, isso só foi mais um combustível para o seu crescimento pessoal. Sua mãe era quem o apoiava nesses momentos complicados, quando ele era tratado como piada.


Stephen A., durante sua infância e adolescência, estudou em escolas locais. Ele não queria cursar o ensino superior, porém, por ter talento no basquete, ingressou na Universidade Estadual de Winston-Salem, nessa época ele teve o primeiro contato com o jornalismo. Escrevia para o jornal da faculdade, além de, obviamente, fazer parte do time de basquete. Era um bom jogador, mas não o suficiente para ingressar no Draft da NBA.


(Stephen A. como jogador do Ram Ramblings, time da faculdade / Imagem: Winston-Salem Journal)


Após a faculdade, Smith trabalhou em vários jornais, um deles o New York Daily News, no jornal ele se especializou em esportes na High School, ensino médio americano. Até que, em 1994, ele foi contratado pelo Philadelphia Inquirer, no jornal, trabalhava como redator esportivo geral. Suas colunas receberam destaque no jornal, sendo promovido várias vezes, até que virou setorista do Philadelphia 76ers, franquia da NBA da cidade, se tornando um colunista da NBA. E, em 2003, virou colunista de esportes em geral.


Sua carreira na rádio começou em 2005, como apresentador do The Stephen A. Smith Show, um programa esportivo de duas horas na WEPN, estação de rádio nova-iorquina filiada à ESPN. O programa de Stephen A. se tornou muito popular entre os ouvintes de Nova Iorque, e, em 2007, a segunda hora de seu programa começou a ser transmitido em todos os Estados Unidos. Entretanto, no ano seguinte, o programa foi encerrado definitivamente, não por queda de audiência, mas para que Stephen A. focasse exclusivamente nos programas televisivos da ESPN americana. Em 2014, o The Stephen A. Smith Show retornou a programação da rádio e também como um podcast.


(Imagem do Stephen A. apresentando o “novo” Stephen A. Smith Show / Imagem: Sports Illustrated)


Falando sobre sua carreira televisiva, sua primeira aparição nas telinhas dos americanos foi em 2003, no programa NBA Shootaround. Stephen tinha que realizar análises sobre jogadores e franquias da NBA, o seu jeito engraçado e agressivo de falar rendeu-lhe várias participações durante os anos em programas da ESPN, como o SportsCenter e o ESPNews. De 2005 até 2007, ele apresentou o Quite Frankly With Stephen A. Smith, no programa ele fazia entrevistas bastante sinceras com estrelas da NBA.

(À esquerda, Stephen A. no NBA Shootaround, à direita ele apresentando o Quite Frankly / Imagens: ESPN)


Depois de anos fazendo participações especiais em programas consagrados, Stephen A. se encontrou em um programa que hoje podemos falar que é seu “carro-chefe”. Esse programa é o First Take, do qual ele se tornou uma figura permanente a partir de 2012. Na exibição, ele debate de maneira profissional e divertida várias pautas dos esportes americanos com outro jornalista, o programa é apresentado por Molly Qerim Rose, que tem um papel de “mediadora do debate”. De 2012 a 2016, ele debateu com Skip Bayless, que foi substituído por Max Kellerman, jornalista que atormenta Stephen A. com seus questionamentos até hoje.


(Stephen A. junto de Molly e Max no estúdio do First Take / Imagem: ESPN)


Stephen A. tem muitos momentos lendários no First Take, um deles, por exemplo, foi o Draft Lottery da NBA que ocorreu em 2019. Caso você não esteja habituado ao termo, o “Draft” é um evento que acontece anualmente nas principais ligas desportivas americanas (NBA, MLB, NFL, NHL), quando as franquias têm a chance de selecionar seus futuros jogadores. As escolhas são chamadas picks: é bem didático, a franquia que tiver a pick 1 terá a primeira escolha do Draft, a que tiver a pick 2 terá a segunda, e assim por diante.


Na NFL e na MLB, no entanto, a ordem de escolha é definida da seguinte forma: a classificação da temporada regular é virada ao contrário, ou seja, quanto pior é a temporada regular da franquia, maior será sua pick do Draft, a franquia com a pior campanha da liga automaticamente recebe a pick 1 do Draft seguinte.


Isso cria um equilíbrio na liga, dando oportunidades para as franquias escolherem os jogadores mais talentosos. Porém, na NBA e NHL as franquias, além de contar com sua incompetência, também devem contar com a sorte, porque antes de acontecer o evento do Draft, ocorre a “Loteria do Draft”. Tal evento é conhecido por sortear as picks das franquias numa máquina de bingo, quanto pior sua temporada, maior sua chance de pegar a pick 1. Cerca de 14% de chance para as três franquias que tiveram as piores campanhas da temporada regular passada.


(Máquina de bingo moderna utilizada na loteria do Draft / Imagem: The Playoffs)


Agora que te expliquei o que é a Loteria do Draft, vou te explicar o porquê do Draft de 2019 ser tão especial. Resumindo em duas palavras, Zion Williamson. O jogador era a maior promessa no Draft desde Lebron James. Zion teve as seguintes médias por jogo no College: 22,6 pontos, 8,9 rebotes, 2,1 assistências, tendo um aproveitamento surreal nos arremessos: 68%.


Em 2019, as três piores franquias que tinham 14% de chance de pegar a pick 1 eram o Phoenix Suns, o Cleveland Cavaliers e o New York Knicks, franquia que Stephen A. é declaradamente apaixonado.


Na Loteria do Draft, a ordem de escolhas é revelada da menor escolha, pick 30, até a pick 1.


Estava chegando ao fim a edição de 2019, faltava revelar apenas as 3 primeiras escolhas. Das franquias que tinham 14% pela pick 1 restaram apenas os Knicks.


Nesse momento, os Knicks enfrentavam o Memphis Grizzlies, com seus míseros 4,5% de chance, e o New Orleans Pelicans, com 6,8% de chance, ou seja, o New York Knicks tinha o dobro de chances de ter a primeira escolha do que seus oponentes. Nesse momento, o sofrido torcedor dos Knicks, que não sabe o que é ser campeão da NBA desde 1973, pensou: “É real? Será que finalmente a sorte está do nosso lado?”. A pick 3 foi revelada, e nela estava a logo dos Knicks. No fim, a pick1 e, consequentemente, Zion, ficaria com os Pelicans.


(Zion sendo escolhido pelos Pelicans no Draft / Imagem: Sarah Stier)


Stephen A. ficou inconsolável, disse que foi várias vezes na igreja, rezava todas as manhãs e noites, pedindo aos céus que os Knicks conseguissem Zion, o que não deu certo. Ele passou as semanas seguintes à loteria, reclamando do azar dos Knicks, lamentando como o universo conspirava contra os Knicks. Aqui vai um compilado de frases do Stephen A. sobre os Knicks terem perdido o Zion:


“Nós ficamos com a terceira pick, não a número 2, poderiam ter nos dado a número 2, A TERCEIRA ESCOLHA com Memphis e Nova Orleans sendo nossos únicos concorrentes”.


“Nunca algo vai dar certo para nós”.


“Era Zion ou nada”.


“Na última vez que o New York Knicks conquistou o campeonato eu tinha 5 anos de idade, senhoras e senhores, eu tenho 51”.

“Tudo que pode dar errado, VAI dar errado”.


(As expressões faciais de Stephen A. são muito utilizadas em memes esportivos pelos americanos / Imagem: Know Your Meme)


Stephen A. Smith, hoje com 53 anos, continua sendo a estrela da ESPN americana e um exemplo de determinação, profissionalismo e bom humor. Um preto criado em um bairro periférico que serve de inspiração para vários futuros jornalistas ao redor do mundo, como o próprio que vos digita. Felizmente, podemos dizer que Stephen A. deu certo como jornalista, infelizmente, não podemos dizer o mesmo do New York Knicks como franquia.



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