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Jornalismo, turnês e rock and roll em “Quase Famosos”

Igor Vieira


Imagem: Divulgação/Columbia Pictures do Brasil


O que você faria se fosse um garoto franzino de 15 anos e tivesse a oportunidade de viver um turbilhão de emoções nunca antes sentidas? Ou até mesmo que você nem sabia que existiam? Essa é parte da trama de Quase Famosos, filme de 2000, que conta com Patrick Fugit como William Miller (o garoto franzino), com Billy Crudup como Russell Hammond (papel que no início pertencia a Brad Pitt) e Kate Hudson (papel que no início era de Kirsten Dunst) como Penny Lane, entre outros.


O filme é semi-autobiográfico, baseado na vida do diretor, Cameron Crowe, que antes de trabalhar com cinema, fazia jornalismo. Crowe começou a escrever para o jornal da escola com 15 anos, (mesma idade do protagonista), logo depois passou a escrever para a famosa revista de rock Rolling Stone. Já William, nosso protagonista, quando era pequeno, teve uma irmã que fugiu de casa por causa da mãe controladora e nada liberal. Ao ir embora, ela sussurrou um aviso profético para o irmão: “Olhe embaixo da sua cama… vai te libertar”. Ela deixou mais do que um presente para o irmão: sua coleção de discos de rock. Anos depois, já com 15 anos e ainda vivendo sob o controle da mãe, o garoto se passa por alguém mais velho pelo telefone e consegue a oportunidade de viajar com a banda Stillwater. A ideia é entrevistá-los e fazer uma matéria para a revista Rolling Stones como jornalista freelancer.


Escrevendo para jornais alternativos e aspirando a ser um jornalista de rock, o protagonista chama a atenção de Lester Bangs, outro jornalista. Com um empurrãozinho de Lester Bangs, William é contratado pelo editor da Rolling Stones, que nunca tinha o visto pessoalmente, para fazer entrevistas com todos os membros da Stillwater, que o chamam de “o inimigo’’ por desconfiarem da imprensa. William realiza as entrevistas com todos, faltando apenas a entrevista de Russell, o frontman da banda, que só será realizada no final do filme, sendo obrigado a viajar com o grupo musical para conseguir a entrevista. Enquanto isso não acontece William se envolve nas vidas e problemas de cada personagem, entrando na maior aventura da sua vida enquanto vai na turnê com a banda e tem suas primeiras experiências, tanto jornalísticas (é a primeira vez que ele escreve para um veículo de imprensa de peso), como pessoais (a perda da virgindade e o polêmico beijo em Penny Lane).


A Stillwater é uma mistura de Led Zeppelin com The Eagles, uma banda de hard e classic rock, com uma inspiração dos anos 70 e músicas compostas por Nancy Wilson, então esposa do diretor. Assim como qualquer banda, Stillwater tem groupies - garotas que vão atrás de artistas em busca de fama. Entre elas está Penny Lane, que se nega a ser chamada de groupie, e prefere o termo “band aid”, que define pessoas que estavam junto dos artistas pela música. Apesar disso, ela é usada por Russell, que, em uma aposta de jogo de cartas, “troca” a jovem por cervejas. Ela gosta de William pela sua inocência e sensibilidade, coisas que não são encontradas nos membros da banda, nem mesmo entre suas amigas groupies. A atriz ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel.


O filme tem cenas memoráveis, como a do ônibus da turnê em que todos cantam juntos Tiny Dancer - o que aumentou a popularidade da música de Elton John. Há uma em que Russell está sob efeito de drogas e pula de um telhado gritando “eu sou o deus dourado”; Na vida real, foi o vocalista do Led Zeppelin, Robert Plant, que pulou de um telhado. Há também a cena do avião, em que os integrantes da banda Stillwater pensam que vão morrer e começam a contar segredos abertamente: por exemplo, um membro da banda confessa ser gay e William, movido por coragem absurda, confessa seu amor por Penny Lane.


É um filme sensível que se dá ao luxo de trazer ao público algumas cenas de comédia. Os momentos engraçados acontecem, por exemplo, quando uma das groupies vai avisar a William que a mãe dele ligou e avisou para não usar drogas, mas acaba correndo atrás do ônibus em que William está e bate contra a parede. Outro momento vem depois da cena marcante do avião quando, ao sobreviverem, a banda e o jornalista percebem que não deviam ter contado segredos uns aos outros. Os momentos mais sensíveis envolvem William e/ou Penny Lane. Como o protagonista é mais novo e está na sua primeira turnê de rock - como jornalista, não como astro - ele vê as coisas de uma forma diferente, não entendendo porque os astros do rock tratam mal as pessoas ao redor e as groupies, e por que as groupies se deixam ser maltratadas. Penny Lane tem vontade de ir para Marrocos, recomeçar sua vida lá, longe do que é errado - embora esse estilo de vida seja tratado como natural pelos astros do rock e as groupies. É por isso que ela gosta da inocência do protagonista, que se apaixona por ela, apesar de os sentimentos não serem recíprocos.


O filme ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original, o Globo de Ouro de Melhor Filme Musical/Comédia e o Emmy de Melhor Trilha Sonora. Todos prêmios merecidos, como o Globo de Ouro da personagem coadjuvante Penny Lane (Kate Hudson) que com sua atuação deu profundidade emocional à personagem e ao filme como um todo. Uma curiosidade impressionante sobre esse filme é que os atores não sabiam tocar instrumentos e tiveram apenas dois meses para aprenderem, mas mesmo assim ganharam como melhor trilha sonora. É um ótimo filme para assistir, e melhor ainda se você for fã de rock ou tiver algum contato com o jornalismo.


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