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Homem-Aranha: Ser super-herói não paga as contas

João Maurício Maturana



O Homem-Aranha é um jovem comum. Com problemas pessoais, dilemas profundos, erros e contas para pagar, o super-herói é o que mais se assemelha a um cara normal. Com todos os seus defeitos e com uma rotina não tão empolgante, o herói é um retrato maravilhoso de nós mesmos sobre as telas, com a exceção de ainda utilizar seus superpoderes para salvar a cidade de Nova York.



(Pôster do filme / Imagem: Reprodução)


Em um mundo pré Universo Cinematográfico Marvel, anterior mesmo à estreia da trilogia do Batman de Christopher Nolan e com os primeiros filmes dos X-Men ainda sendo lançados, Homem-Aranha se estabelece como um dos primeiros (e mais importantes) filmes de super-herói do início dos anos 2000.


O longa conta a história de Peter Parker (Tobey Maguire), um jovem nerd que, após ser picado por uma aranha radioativa, desenvolve superpoderes. E, após a morte de seu tio Ben (Cliff Robertson) - que podia ter sido impedida pelo herói - decide utilizar seus poderes para combater o crime e servir à cidade de Nova York.


Peter ainda precisa conciliar sua vida de herói com os clássicos dramas juvenis, como o bullying na escola e sua paixão por Mary Jane (Kirsten Dunst). Além disso, o interesse amoroso do “teioso” acaba se relacionando com seu melhor amigo, Harry Osborn (James Franco), cujo pai é o maior vilão do herói, Norman Osborn (William Dafoe), o Duende Verde.


No meio disso, o jovem ainda precisa arranjar um jeito de ganhar um dinheiro, e acaba recorrendo ao Clarim Diário, oferecendo as melhores fotos do Homem-Aranha. Se nos dias de hoje ser jornalista é sinônimo de salários baixos, na realidade do filme é o jeito que o protagonista consegue de ganhar algum tostão, visto que sua carreira de super-herói não é remunerada e ainda exige muito do seu tempo. Afinal, o crime não descansa – e diga-se de passagem, nem compensa.


O jovem fotojornalista precisa então se submeter ao maior “muquirana” e sensacionalista editor de Nova York, J. J. Jameson (J. K. Simmons). É nesse ambiente que o filme se aprofunda na questão jornalística. O jornal de J. J. é feito a partir do tendencioso ponto de vista do editor, no ritmo mais rápido possível. A redação do Clarim é fervorosa, demonstrada pelo entra e sai de funcionários da sala de Jameson, assim como suas respostas curtas e prontas na ponta da língua. Peter, então, utiliza do privilegiado ponto de vista do seu alter ego para conseguir as melhores fotos que retratem seus atos, conquistando, com isso, a primeira página do jornal.


O embate é certo. De um lado, um editor de jornal que procura a polêmica em cada manchete, para gerar uma maior repercussão para o seu jornal. De outro, o próprio herói que acredita profundamente em seus feitos e ações para salvar os nova-iorquinos, tentando, literalmente, vender sua melhor imagem. De todo modo, a verdade sobre quem é o Homem-Aranha, suas motivações e a legitimidade de uma pessoa mascarada e com superpoderes agindo pela cidade tem uma enorme parcialidade no grande vale-tudo da imprensa.



(O editor do jornal em que Peter trabalha / Imagem: Reprodução)


Fazendo jus a uma época tão marcante, o filme abusa bastante das referências e estilos de sua época, podendo ser considerado datado aos olhos de alguém que o assiste 20 anos depois de seu lançamento. Além disso, os mesmos olhos que assistiram a possível Era de Ouro dos super-heróis nos cinemas e a consolidação do gênero podem até estranhar o protagonismo solo do super-herói, sem amarras a uma equipe ou ajudantes. O Homem-Aranha de Sam Raimi é um super-herói independentemente completo.


O filme segue a tradicional jornada do herói, mas é destacável a forma como é feita. Ousando em colocar riscos reais e fortalecendo a responsabilidade do herói – uma de suas características mais marcantes -, o longa consegue intrigar o seu espectador, ao construir uma realidade em que mortes acontecem e nem sempre o protagonista consegue resolver todos os seus problemas. Tobey Maguire pode não conseguir segurar tanto nas cenas mais dramáticas, mas certamente conquista, com seu carisma, toda uma geração que se vê representada pelos seus erros, triunfos e dilemas.


A direção de Sam Raimi, famoso por dirigir filmes de terror, também dá contornos especiais à obra, com cenas que remetem ao próprio gênero. Como a esquizofrenia de Norman Osborn; a aparição do Duende Verde quando o Homem-Aranha vai salvar vítimas de um incêndio; ou o próprio tom sombrio do local em que se dá a última batalha entre os dois. Ainda complementando essa atmosfera com o tom cartunesco adaptado das HQs do herói, resultando em uma obra excentricamente autoral.


(Encontro do Homem-Aranha com o vilão Duende Verde / Imagem: Reprodução)


Também vale lembrar que, nas telas, essa é a única versão do herói, dentre as mais conhecidas pelo público, que atua efetivamente como fotojornalista – a estrelada por Andrew Garfield (2012 - 2014) usa da fotografia como hobby, e a de Tom Holland (2017 – atualmente) está muito ocupado com problemas escolares para se envolver no ramo.


Não é de se admirar que essa primeira adaptação do herói seja considerada a melhor por grande parte dos fãs. Se os filmes de Garfield, dirigidos por Marc Webb, trazem um Peter Parker versão nerd descolado (e ainda skatista), e os de Holland, dirigidos por Jon Watts, colocam-no mais em uma posição de coadjuvante – graças, também, à questão de direitos que se encontra compartilhada entre a Sony e a Marvel Studios -, pode-se dizer que o que caracteriza o herói vivido por Maguire é sua responsabilidade. Suas questões são todas conturbadas pelo fardo de se ter superpoderes, e o forte peso sentido quando não são utilizados para fazer o bem.


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