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A Chegada e a reflexão do conceito de linguagem

Atualizado: 31 de out. de 2023

Como um filme sobre alienígenas nos ajuda a entender o processo de se comunicar


Por Guillermo Lacerda


Louise "conversando" com os heptapodes (Imagem: Reprodução\A Chegada)


Doze naves alienígenas chegam à Terra e se espalham por diferentes países do mundo. Sem nenhum alarde ou destruição. O que eles querem de nós? Como iremos saber? Como iremos falar com eles? Esses e mais outros são questionamentos que o filme de Denis Villeneuve com oito indicações ao Oscar irá nos propor.


A Chegada, de 2016, acompanha a vida de Louise Banks, interpretada pela atriz Amy Adams. Linguista americana renomada, Louise é chamada pelo exército de seu país para tentar de alguma forma se comunicar com esses seres invasores. Em meio a diversas tentativas frustradas de decifrar o significado do som emitido pelos aliens, Louise se propõe a entrar em uma das doze naves, justamente a que estava instalada nos Estados Unidos.


OS LOGOGRAMAS


Somos apresentados a uma diferente comunicação realizada pelos heptapodes. De forma cíclica, sem linearidade e por meio de logogramas. Totalmente diferente do que estamos acostumados. Para os aliens, não existe a concepção de passado, presente e futuro. Não há sentido de orientação de escrita. Não se escreve da esquerda pra direita.


Os logogramas mostrados e analisados por Louise no filme (Imagem: Reprodução\A Chegada)

“Diferente da fala, o logograma é livre do tempo. Como suas naves e seus corpos, a linguagem deles [heptapodes] não possui direção. Os linguistas chamam isso de ortografia não-linear, o que levanta a pergunta: é assim que eles pensam?”, questiona o personagem Ian Donnelly, interpretado por Jeremy Renner


Essa frase nos faz refletir em como a língua influencia na visão do mundo ou em como a nossa percepção de tempo influencia a nossa comunicação. Por exemplo, em países do Ocidente o padrão de escrita e leitura é feito da esquerda para a direita, assim como a progressão do tempo. Uma linha do tempo é escrita da esquerda (passado) para a direita (presente). E é nesse sentido que o filme irá nos propor uma reflexão. Um mesmo logograma pode representar diferentes significados dependendo da forma como enxergamos o mundo. Um mesmo logograma, interpretado de diferentes formas pelos doze países, significou um colapso comunicacional, principalmente entre Estados Unidos e China. Um país do Ocidente e outro do Oriente.



Ian e Louise dentro da nave alienígena tentando estabelecer contato com os seres extraterrestres

(Imagem: Reprodução/A Chegada)



Quando finalmente Louise e Ian fazem a pergunta sobre o propósito na Terra e interpretam a resposta dos heptapodes como ‘oferta de arma’, a tensão de uma guerra iminente chega a seu ápice, mesmo com os especialistas esclarecendo que não sabiam se os aliens entendiam a diferença entre ‘arma’ e ‘ferramenta’. A questão abordada seria de que a tentativa de compreender uma outra linguagem através da nossa própria linguagem pode modificar o verdadeiro sentido do discurso. O próprio filme irá nos mostrar depois que nenhuma das duas interpretações está correta.


Fica clara a intenção do roteiro em nos mostrar que falar não é sinônimo de comunicar, e que como uma falha de comunicação entre os próprios humanos pode gerar até mesmo uma guerra contra aliens.


Outro ponto apresentado pelo filme tem relação a como a mídia potencializa o medo na população. Mesmo sem nenhum indício de ataque iminente dos alienígenas, constantemente vemos nos noticiários alegações de que estes eram uma ameaça e deveriam ser atacados imediatamente. Nesse sentido, acho que o filme faz uma leve crítica a outros filmes que tratam sobre o mesmo assunto e expõem uma imagem ameaçadora de seres extraterrestres.


O retrato que o filme faz sobre a mídia me lembrou muito a forma como foi tratada a pandemia da Covid-19. Uma grande quantidade de notícias falsas impulsionaram ainda mais o medo na população. Opiniões substituíram informações.


O filme é muito bom, por isso as oito indicações ao Oscar. É uma ideia extremamente inovadora ao tratar de um tema batido em Hollywood, mas de uma forma diferente. Não é um filme sobre aliens. É um filme sobre linguagem e comunicação que utiliza esses aliens para tratar do assunto. De começo, os problemas pessoais da protagonista e a não linearidade em que sua vida é retratada podem parecer meio confusos; porém são extremamente necessários para entendermos a relação de Louise com os heptapodes e o final do longa-metragem.


Louise e sua filha brincando (Imagem: Reprodução/A Chegada)


Filme disponível na Netflix.


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