Um Céu de Estrelas: o filme que mostra a disfunção do jornalismo
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Atualizado: há 2 dias
A obra retrata a prática da espetacularização na cobertura jornalística
Por Clara Maria

O filme Um Céu de Estrelas (1996) demonstra como o jornalismo da grande mídia muitas vezes noticia tragédias sem qualquer responsabilidade e as transforma em um espetáculo. Dirigido por Tata Amaral, o longa-metragem é um drama extremamente crítico a aspectos da sociedade brasileira no final do século XX.
Um Céu de Estrelas se passa no bairro periférico da Mooca em São Paulo e conta a história de Dalva, uma jovem cabeleireira que ganha um concurso e vai se mudar para trabalhar em Miami. Seus planos são subitamente interrompidos quando o ex-namorado Vítor vai até sua casa, insiste que a moça não viaje e retome sua relação com ele. Vítor se mostra extremamente agressivo e Dalva se apresenta submissa a ele. Em uma escalada de acontecimentos, a conversa se transforma em sexo e depois vira uma briga, quando a mãe de Dalva retorna à casa e se depara com o ex-genro. A partir desse ponto na história, tudo fica mais violento a cada cena até que Vítor deixa de ser uma visita indesejada e se torna sequestrador das duas mulheres. Uma vez que a polícia é acionada, uma equipe de repórteres se posiciona em frente à residência de Dalva e começa sua irresponsável cobertura ao vivo sobre o caso.
Interferindo na ação da polícia, proferindo falas sensacionalistas e tratando com falta de sensibilidade a situação crítica que se desenrola, a repórter televisiva transforma o sequestro em um espetáculo. Prestando um verdadeiro desserviço, a jornalista tenta entrevistar o comandante da operação enquanto ele negocia com o sequestrador. Além disso, imagens televisionadas mostram os policiais se posicionando para invadir a casa, permitindo assim que Vítor pudesse assistir a estratégia dos seus inimigos. Ao ouvir um tiro vindo de dentro da residência, a polícia entra e os repórteres inconsequentemente a acompanham. Para o grande final de seu show, as câmeras mostram ao vivo a cena trágica e muito explícita decorrente do disparo ouvido.
A obra foi lançada durante a Retomada do cinema nacional: período de renascimento da produção audiovisual no Brasil depois da crise no governo Collor. Os temas tratados nesse contexto histórico são críticos e desesperançosos. Afinal, a década de 1990 foi um momento desilusório para os brasileiros. Depois das grandes expectativas de um futuro melhor, criadas pela Constituição de 1988, a decepção da sociedade com a democracia, devido ao impeachment do presidente Collor, foi muito significante. Um Céu de Estrelas é um retrato dessa época e desse sentimento de falta de perspectiva. A obra desenvolve críticas sem apresentar qualquer tipo de resposta para os problemas. O filme usa Dalva como uma representação dos brasileiros, ela tinha um futuro tão brilhante pela frente e viu seus planos desmoronarem pelas condições que vivia.
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