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Stephen King, o Jornalismo e a Impressão em “Sobre a escrita”

João Guilherme Tuasco

Antes de tornar-se um escritor famoso, Stephen King teve experiências com o jornalismo que se assemelham à construção da imprensa.



Imagem: reprodução/Shane Leonard


Stephen Edwin King é um renomado escritor estadunidense dos gêneros de terror, suspense, ficção e fantasia. Com 73 anos, o autor tem mais de 50 best-sellers mundiais, dentre eles Carrie, It e O iluminado. Também já conquistou diversos prêmios como o World Fantasy Award, o Bram Stoker Award e o British Fantasy Society, além da medalha por Contribuição de destaque à literatura americana e da nomeação como Grão-mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos.

Imagem: capa do livro/ reprodução


Em seu livro Sobre a escrita, originalmente publicado em 2000, King organiza sua obra em 5 partes principais: prefácios, currículo, caixa de ferramentas, sobre a escrita e sobre a vida: um postscriptum. Em todas, ele compartilha sua experiência particular em 1ª pessoa, o que faz o leitor sentir que está em uma conversa. Maravilhoso. Na primeira seção, o autor esclarece o porquê de escrever o livro. Destaco aqui um trecho: "Muitos de nós, proletários, humildemente nos preocupamos com a linguagem, e temos extremo cuidado e paixão pela arte e pelo ofício de contar histórias no papel. O que se segue é uma tentativa de escrever, de maneira breve e simples, como me iniciei no ofício, o que sei sobre isso e como se faz. Trata-se do trabalho diário; trata-se da linguagem.”


A segunda seção, segundo o autor, não é uma autobiografia, mas sim um Currículo importantíssimo para entender a trajetória dele no caminho da escrita. Stephen King narra sua experiências da infância até a vida adulta, conta desde a troca constantes de babás, passando pelos momentos em que começou a escrever histórias com 6 anos, em que escreveu bestsellers, em que conheceu a mulher Tabitha Spruce, até o vício em drogas e a morte da mãe.


Em meio a tantas memórias, foi na adolescência que o escritor teve o primeiro contato com o jornalismo. Seu irmão mais velho, entediado com o Ensino Médio, criou o Regras do Dave, um “boletim informativo familiar e quinzenal de cidade pequena”.


Nele, os leitores ficavam sabendo sobre acontecimentos de cidadãos locais, sobre a Igreja Metodista de West Durham, sobre a quantidade de água que a família do escritor puxava e sobre visitas a certas famílias. Além disso, o noticiário trazia seções de esportes, de receitas, de piadas, de previsão do tempo e um folhetim, que Stephen King escrevia.


Em Durham, cidade com cerca de 900 habitantes, o jornal tornou-se famoso: “A tiragem passou aos poucos de cinco cópias (vendidas para familiares próximos) para algo na ordem de cinquenta ou sessenta exemplares, com nossos parentes e os parentes dos vizinhos de nossa pequena cidade (...) esperando ávidos por uma nova edição.”


A produção do jornal acontecia no porão da casa dos King e as cópias eram feitas com um hectógrafo. O instrumento consiste em replicar uma folha escrita em uma prensa gelatinosa, o que gerava uma folha roxa. Tempos depois, Dave comprou um mimeógrafo, máquina cuja cópia era feita através de um estêncil, que, ao girar uma manivela, entrava em contato com um feltro embebido em álcool, o que gerava um cheiro forte nas cópias que saiam na folha de papel. Ambas as ferramentas são parte do desenvolvimento das formas de impressão, que hoje em dia contam com impressoras offset e digitais.


Uma breve história sobre a reprodução


Durante muito tempo, para difundir conhecimento, monges atuavam realizando cópias dos textos. No século XV, Gutenberg, um alemão, associou os tipos móveis (estruturas metálicas em relevo, antes feitas de madeira na China, com caracteres textuais) às caixas da prensa.

Dessa forma, organizava-se as letras em caixas altas ou baixas, daí o nome das maiúsculas e minúsculas, até formar uma página e pressionava-se os tipos contra o papel e uma placa de platina, imprimindo o conteúdo. Isso facilitou a difusão e a reprodução dos textos.

Imagem: imprensa de tipos móveis de 1811/Reprodução


No século XVIII, Senefelder, um dramaturgo que queria ter mais cópias de suas peças, cria a Litografia, uma forma de imprimir com tintas gordurosas escritas em uma pedra de calcário que, depois de alguns processos de repulsão da água e do óleo, se concentram nos traços da figura e é pressionada contra o papel.

Imagem: reprodução


No século XIX, surge o instrumento utilizado por King e popularizado no século XX, o mimeógrafo. Criado por Thomas Edison, tornou-se sucesso como copiadora nas escolas do Brasil e do mundo nas décadas de 60, 70 e 80 e facilitou a reprodução de conteúdo literário.

Imagem: mimeógrafo da marca Facit/Reprodução


Na metade do século XX, duas formas de reprodução tornam-se populares: a fotocopiadora, da Xerox, substituta do mimeógrafo, e a impressão offset. A primeira se baseia na impressão por repulsão eletrostática: um tambor eletrizado entra em contato com uma lâmpada halógena que deixa apenas as cargas certas para que um toner possa aderir e ser derretido para o papel. Saiba mais neste link.


A segunda é uma impressão indireta: a tinta passa por um tambor, juntamente com a água, é transferida para uma blanqueta, um cilindro responsável por retirar a umidade e o excesso de tinta e transferir para o papel.


Imagem: exemplo gráfico do processo de impressão offset/ reprodução


Atualmente, existem impressoras a laser, que funcionam em um processo parecido com o da Xerox, a principal diferença é que a imagem a ser impressa vem do computador.


Imagem: impressora com tecnologia à laser HP/ Divulgação


De volta ao mundo de Stephen King


Por já ter experiência no Regras do Dave, o autor, no segundo ano do Ensino Médio, virou editor do impresso do colégio, o The Drum. Segundo King, o jornal não prosperou sob o comando editorial dele. As publicações não tinham frequência regular como a produção do irmão, que era quinzenal: durante o ano letivo de 1963-1964, houve apenas uma edição, mais grossa que a lista telefônica da cidade.

Imagem: Lisbon High School/Reprodução


Nesse periódico, existiam colunas como os “Relatórios de Classe”, “Notícias das Líderes de Torcida” e de poemas, o que lembra o início da imprensa no Brasil em que a Gazeta do Rio de Janeiro trazia informações comerciais, comunicados oficiais e cartas.


Stephen, como gostava de escrever histórias, cansou-se do trabalho jornalístico e criou um livro satírico da escola. O The Village Vomit tinha quatro páginas e professores como personagens: “A srta. Raypach, monitora da sala de estudos, se tornou a srta. Rat Pack; o sr. Ricker, professor de inglês (e o mais elegante e sofisticado membro do corpo docente, que lembrava Craig Stevens na série Peter Gunn), virou o Homem Vaca, porque a família dele era dona da Laticínios Ricker; e o sr. Diehl, professor de geografia, se transformou no Velho Diehl.”


Com essa sátira, King foi parar na diretoria. Alguns professores o perdoaram, mas ele teve que ir para a detenção. Logo quando acabou sua “prisão”, foi chamado de novo para a sala do diretor. Dessa vez não era problema, era oportunidade. Um conselheiro escolar conversou com John Gould, o editor do jornal “Lisbon Weekly Enterprise”, e ofereceu-lhe trabalho como repórter esportivo.


Stephen King aceitou o emprego e seus dois primeiros trabalhos como jornalista foram sobre um recorde quebrado em um jogo de basquete da escola. Escreveu e entregou ao editor, que fez apenas duas correções e estava pronto para publicar!

Imagem: a correção do texto/Reprodução


Gould ensinou lições importantes sobre o jornalismo:


“Quando você escreve, está contando uma história para si mesmo. Quando reescreve, o mais importante é cortar tudo o que não faz parte da história. (...) Escreva com a porta fechada, reescreva com a porta aberta. Em outras palavras, você começa escrevendo algo só seu, mas depois o texto precisa ir para a rua. Assim que você descobre qual é a história e consegue contá-la direito — tanto quanto você for capaz —, ela passa a pertencer a quem quiser ler. Ou criticar.”

Após essa experiência no jornalismo, Stephen King mudou de rumos e trabalhou em uma tecelagem, porque precisava de dinheiro, mas não abandonou sua criatividade e a escrita, escreveu contos sobre os ratos que pareciam cachorros. Fez faculdade de letras, mas não conseguiu emprego e teve que trabalhar em uma lavanderia.

Sempre incentivado pela esposa, conseguiu trabalho como professor e, na mesma época, escreveu Carie, sucesso literário e filmográfico, e seguiu fazendo livros como Pesadelos e Paisagens Noturnas, que contém um conto sobre um jornalista. Ele saiu do jornalismo, mas o jornalismo não saiu dele.

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