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Podcast “Nós da Imprensa” - Episódio debate judicialização do jornalismo

No ar desde maio de 2020, o programa analisa os desafios da profissão

Ana Paula Jaume



Capa do podcast Nós da Imprensa (Imagem: Reprodução)



“No Brasil, basta estar vivo para ser processado”, apontou Hugo Vecchiato, o convidado do episódio quatro do Nós da Imprensa. Intitulado A judicialização do trabalho jornalístico é uma forma de intimidação? e conduzido por Cecília Olliveira e Raphael Prado, o episódio comenta ações do jornalismo que repercutiram na sociedade, após pararem no Supremo Tribunal Federal (STF).

A produção questiona se isso seria uma forma de ameaçar profissionais da Comunicação e fala de ataques sofridos por eles nos últimos tempos. Dentre os pontos abordados, o programa traz processos movidos por policiais militares contra colaboradores do jornal Folha de S. Paulo, e a abertura de inquérito, do Ministério da Justiça, para investigar Ricardo Noblat, jornalista da Veja, e Renato Aroeira, cartunista do Brasil 247.

Desde o seu lançamento, o Nós da Imprensa explora aspectos do ofício jornalístico, bem como os obstáculos da rotina do repórter. Nessa linha, quinzenalmente, os apresentadores chamam profissionais da Comunicação Social e áreas afins para, juntos, analisarem, criticamente, esse meio.

Até a data em que a esta resenha foi escrita, mais de 10 convidados já haviam passado pelo podcast. Veja alguns: Fernando Gallo, gerente de políticas públicas do Twitter, no Brasil; Janaina Garcia, co-fundadora do coletivo Jornalistas contra o Assédio; Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de S. Paulo; Vera Magalhães, apresentadora do Roda Viva e colunista do Estadão; e Xico Sá, colunista do El País. E aí, conhece? Colega, se eu fosse você, assim que terminasse de ler este texto, iria correndo acessar o Nós da Imprensa e ouvir o que esses grandes nomes têm a dizer. Seus ouvidos agradecem!

Jornalista investigativa, pós-graduada em Criminalidade e Segurança Pública e em Administração Pública, Cecília recentemente começou a trabalhar para o El País. Antes disso, passou pelo The Intercept Brasil. Criadora e diretora do Fogo Cruzado, também participou do Coletivo Papo Reto e Comunidades Catalisadores. A rota de Raphael Prado no mundo da notícia, também, é ampla. Já foi editor do site Terra e do informativo diário da companhia aérea TAM. Na TV Globo, trabalhou no Profissão Repórter e editou o Fantástico. Além disso, já colaborou com o Caldeirão do Huck e o Domingão do Faustão. Seguindo essa proposta, hoje, ele escreve programas de entretenimento na emissora.

Veiculado em junho, o quarto episódio do Nós da Imprensa entrega ao ouvinte um tema delicado e relevante não só ao profissional da imprensa, mas à toda a comunidade. Somos levados a nos questionar até que ponto processos judiciais, contra jornalistas, podem comprometer o exercício da profissão e inibir manifestações democráticas. Por que punir comunicadores? Por que barrar uma charge que retrata o contexto político? Para afundar no lixo o senso crítico dos cidadãos? Por que você acha que isso acontece? Não tenha medo de pensar. Conteste.

No primeiro bloco do episódio, o centro da conversa é o conceito de liberdade de expressão e a diferença entre sátira e ataque à honra. Fatos são puxados à discussão, como a revogação da Lei da Imprensa, pelo STF, em 2009. Ao lado disso, uma década mais tarde, a Folha de S. Paulo publicou uma charge criticando a violência policial. O jornal parou na Justiça, depois que uma associação de policiais alegou constrangimento com a arte. O mesmo ocorreu quando o veículo divulgou outra imagem. Agora, o alvo era o presidente Bolsonaro.

Em cima disso, e em diversos momentos do programa, Hugo, calejado em coberturas do Legislativo e do Judiciário, comenta e embasa equívocos deste último. O entrevistado sinaliza que a justiça, muitas vezes, usa um filtro subjetivo ao sentenciar estratégias comuns de se encontrar no meio jornalístico, como as sátiras. Nesse cenário, porém, é fundamental dizer que a mídia costuma usar essa técnica literária [sátira] para fazer uma intervenção política e denunciar a realidade.

Ao deixar de lado o “juridiquês” (termos técnicos do Direito), Hugo Vecchiato lança situações no intuito de ilustrar e facilitar para os ouvintes a compreensão de sua fala. Vê-se, aqui, uma preocupação do Nós da Imprensa ao escolher não apenas um convidado capacitado tecnicamente, mas hábil em popularizar o conhecimento. Atitude esta que merece elogios, por fazer jus ao serviço do Jornalismo: simplificar princípios e servir de alavanca para o ouvinte construir seu pensamento analítico em cima do conteúdo dado.

Cecília, ainda, traz termos, como calúnia e difamação, causas comuns de processos contra jornalistas. Em seguida, Hugo esclarece não só esses conceitos, mas o de injúria. Portanto, o episódio acerta, por dar a devida atenção a temas, não poucas vezes, confundidos por muitos de nós (pode falar, vai). Definições estas que precisam, pois, estar na ponta da língua, da sociedade, sobretudo, profissionais e estudantes da comunicação.

Nós temos segurança jurídica, no Brasil, para exercer o jornalismo? No segundo bloco, em resposta a Raphael, Hugo detalhou a realidade e as dificuldades em que o profissional da imprensa está inserido e que, muitas vezes, corta suas asas. No entanto, contou que, longe dos grandes centros, o quadro é pior. Situação propiciada muito por não haver magistrados qualificados o suficiente.

Por fim, a interação com o ouvinte é fundamental na linguagem radiofônica, muito pelo fato de a voz do locutor ser a única fonte de conexão com quem está do outro lado. Sabe aquela sensação de pertencimento, parte do todo? Então, é essa a atmosfera que deve envolver o ouvinte. Ele tem que se sentir próximo ao apresentador e à história. O universo dos podcasts segue a mesma linha.

Por sua vez, o Nós da Imprensa consegue, muito bem, conquistar a pessoa e levá-la para perto dos jornalistas. Neste quarto episódio, por exemplo, Hugo Vecchiato se dispõe a tirar dúvidas dos ouvintes logo depois de o episódio ter ido ao ar. Para fechar a veia interativa da produção, no final de cada episódio, Cecília Oliveira e Raphael Prado lêem mensagens enviadas por internautas para as redes sociais do podcast. A duração deste episódio é de 44 minutos.


O Nós da Imprensa está disponível em todas as plataformas. Escolha a sua preferida e confira!



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