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A Mulher da Casa Abandonada: O Impacto e a Controvérsia do Podcast de Chico Felitti


O podcast da Folha, criado pelo jornalista e escritor Chico Felitti, foi lançado em meados de 2022 e rapidamente conquistou inúmeros ouvintes. A Mulher da Casa Abandonada acompanha Felitti enquanto investiga uma figura excêntrica que vive em uma antiga mansão caindo aos pedaços em Higienópolis, um dos bairros mais ricos de São Paulo.


Capa do podcast A Mulher da Casa Abandonada


O jornalista iniciou sua pesquisa por pura curiosidade. Queria entender por que uma pessoa já idosa vivia em uma casa naquelas condições e por que os vizinhos, que enxergavam as condições da mansão destruída, não ajudavam a mulher.


Chico começou a investigação achando que seria uma situação de abandono social e descaso com idosos. Porém, com o passar dos episódios, a história tomou um rumo inesperado. Ao conversar com a moradora da casa, uma mulher que diz se chamar Mari, Felitti chegou cada vez mais perto de um passado obscuro que a dona da casa escondeu por tantos anos.


“Quando soube que tinha uma mulher morando ali, numa casa abandonada, imaginei que a história fosse de alguém também abandonado. Pensei que pudesse ser a história de uma mulher excêntrica e discriminada pelos vizinhos; é o tipo de história que me interessa”, explica Felitti em um trecho do primeiro episódio.

No começo, ele até consegue fazer contato com ela, mas a mulher se afasta de repente e começa a evitá-lo. É a partir disso que Chico inicia uma investigação por conta própria. Quando ele joga o endereço da casa no Google para pesquisar sobre a história do casarão decadente, descobre por meio de um comentário anônimo em um site de arquitetura que a dona do local, na verdade, se chamava Margarida Bonetti e era procurada pelo FBI.


A casa abandonada de Higienópolis. Reprodução: Simon Plestenjak/UOL


Isso tudo se passa apenas no primeiro episódio, e é seguindo essa descoberta que o jornalista traça os próximos seis capítulos do podcast. De forma resumida, Margarida, a moradora da mansão, é procurada pela agência de investigação norte-americana por manter uma funcionária em condições análogas à escravidão durante os anos de 1970 e início de 2000, enquanto ainda morava nos Estados Unidos.


O que cativa o interesse dos ouvintes no programa é Felitti mostrando cada passo da investigação a fundo, desde as entrevistas com vizinhos ao redor do bairro de São Paulo até a viagem que faz para a cidade norte-americana em que a mulher costumava morar. Além disso, a narrativa detalhada do jornalista, que descreve especificamente cada cena e personagem, faz o ouvinte se sentir ao lado dele enquanto a história é investigada.


“Então, eu fui para o próximo arquivo disponível, um arquivo que não é de papel, mas de memórias. Eu saí pela rua da casa perguntando para vizinhos quem conhecia a história da mulher que se esconde lá e, para minha surpresa, todo mundo sabia quem ela era e todo mundo sabia o que ela tinha feito”, momento do podcast em que o jornalista começa a entrevistar os vizinhos do bairro.

Chico Felitti presente na ação policial que aconteceu na casa de Margarida Bonetti, em 20 de Agosto de 2022. Reprodução: Folha de S. Paulo


Mas não foi apenas o enredo impactante e a narração envolvente que fizeram o podcast ser tão comentado. Muitos reclamaram da falta de ética do jornalista, que gravava algumas conversas sem o conhecimento das outras pessoas. Esse fato fez muitos questionarem qual seria o limite ético nessas situações. Isso seria justificável se as informações que ele adquiriu fossem denúncias de interesse público que não estariam ao seu alcance de outra maneira?


Porém, a falta de ética não foi apenas da parte do jornalista, mas também da audiência. Houve uma espécie de "espetacularização" da história que transformou a mansão em um ponto turístico. O próprio autor criticou essa banalização do assunto, dizendo que estava decepcionado, porque o objetivo do projeto era trazer para o debate trabalhos análogos à escravidão, um crime que acontece até hoje no Brasil, mas muitas vezes continua acobertado.


Curiosos em frente à residência de Higienópolis Foto: Willian Moreira/Futura Press/Estadão


A Mulher da Casa Abandonada é um excelente podcast, com uma narração cativante e uma história inacreditável que nos faz questionar o quanto nós podemos desconhecer sobre os nossos vizinhos e quais crimes podem estar logo ao nosso lado. Mas, acima de tudo, nos faz refletir sobre a injustiça persistente na nossa sociedade.


O programa está disponível no Spotify, Deezer e Apple Podcasts. Você também pode escutá-lo através do YouTube, no canal da Folha de S. Paulo.



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