Dos grandes veículos aos jornalistas independentes, envio de conteúdos por e-mail é mercado em expansão
Geovanna Braga
A profissão jornalística enfrenta uma crise múltipla: o avanço tecnológico extinguiu muitas funções nas redações, os salários caíram, as vagas também, e o diploma em jornalismo não é mais indispensável para exercer a profissão. Mas nem tudo é má notícia: dentro do mercado jornalístico, um ramo que cresce é o envio de newsletters - um mercado que, segundo o Ghost Interview , poderá valer mais de R$22 bilhões até 2024.
As newsletter são boletins informativos de várias assuntos enviados para o e-mail de quem o assina. Elas funcionam como uma vitrine do que cada veículo publica. Mas também podem funcionar como uma curadoria de notícia, ou seja, uma seleção de conteúdos a serem enviados aos assinantes. A newsletter permite a possibilidade de cobrar pelo serviço, pois o assinante recebe uma seleção de conteúdos - reportagens, notícias, comentários, críticas e outros tipos de textos jornalísticos - em um nicho definido pelo autor.
( Logo Substack. Via: folha.uol)
Uma das plataformas que oferecem esse tipo de serviço é a startup Substack que aceita autores e assinantes de todo o mundo. Na plataforma, os escritores podem hospedar newsletter pagas ou gratuitas sem pagar valor nenhum, mas a partir do momento em que recebem pelos boletins, 10% fica com a plataforma, e o restante vai para o autor.
O modelo de negócio das newsletters vem atraindo nomes experientes e muito conhecidos no jornalismo. É o caso de Glenn Greenwald, que atuou em veículos como The Guardian e The Intercept, e Tiago Leifert, que trabalhou por 16 anos na Globo e hoje possui na plataforma Substack uma newsletter definida por ele mesmo como de “Tech, Games, Cultura pop (e às vezes esporte)” que já conta com 20 mil inscritos.
(Tiago Leifert. Via: uol.com.br)
Um fato que confirma o crescimento desse modelo de compartilhamento de conteúdos é adesão de veículos tradicionais, empresas de ramos variados e startups a esse formato. É o caso da Ghost, uma das startups concorrentes da Substack, do próprio jornal The New York Times, que ampliou sua plataforma de newsletter convidando seus jornalistas a participar da mesmas, para concorrer com a Substack, e do Facebook e do Twitter que investiram, respectivamente, nos serviços de newsletter Bulletin e Revue.
Apesar de todos esses benefícios, é preciso dizer que a maior parte da renda das newsletters da Substack está concentrada em uma parte pequena dos escritores da plataforma, em sua maioria escritores já conhecidos e com uma facilidade de fontes que talvez jornalistas iniciantes teriam dificuldade de conseguir. Uma questão importante é o risco de uma polarização cada vez maior das bolhas sociais, já que a maioria dos assinantes de uma newsletter é simpatizante das ideias contidas na mesma. Outro ponto negativo é que essa modalidade de trabalho costuma recorrer ao uso da pessoa jurídica para contratar colaboradores, sem garantir de direitos trabalhistas, o que deve ser levado em conta em uma profissão suscetível a riscos como a do jornalista.
É cedo para afirmar que o modelo de negócio das newsletters vá substituir completamente a forma de consumir conteúdo. Talvez acabe se firmando como uma oferta complementar, como as revistas por assinatura que chegavam pelo correio.
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