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“Jornalistas pretos ainda incomodam”: uma conversa com Mariana Bispo

Por Júlia Mendes


“A discriminação existe. Eu acho que as pessoas ainda estão muito incomodadas com a nossa presença em locais de destaque.” É assim que a jornalista Mariana Bispo explica os ataques racistas que muitos jornalistas pretos, inclusive ela própria, recebem no meio digital. Apresentadora da Record TV, Mariana foi a entrevistada na 8ª edição da quarta temporada do ECOnversa, projeto dos alunos do Laboratório 1 de Jornalismo da UFRJ.



Na live realizada no dia 7 de fevereiro, Mariana conta que em sua turma da faculdade só ela e mais uma menina, que é sua amiga até hoje, eram pretas. Isso fazia com que ela se sentisse um pouco deslocada na turma. Perceber hoje uma presença cada vez maior de profissionais pretos no jornalismo a faz se sentir menos sozinha: “Olhar para o lado e ter uma jornalista preta do seu lado é importante. É importante não estar sozinha”. Formada pela PUC-Rio, Mariana contou que viu nascer o Coletivo Nuvem Preta e que, apesar de não poder dar a atenção que gostaria ao movimento devido ao deslocamento diário e ao estágio, se sentia extremamente representada por ele e tem muito orgulho do coletivo.


Ex-moradora de Duque de Caxias, Mariana relatou as dificuldades de se deslocar todos os dias até a Gávea, local da sua faculdade. Acordava às 3 e meia da manhã para conseguir chegar a tempo da aula às 7 horas e, na volta da faculdade, chegava muito tarde em casa. Ainda assim, era muito esforçada e aplicada nos estudos e sempre sentava nas primeiras cadeiras. “Eu sentava na frente e lutava contra o sono para ficar acordada. Foi perrengue. O meu rendimento não podia ser baixo porque eu era bolsista.”


Atualmente, Mariana é apresentadora de dois programas da Record TV, ambos com propostas totalmente diferentes: o Zapping, voltado para as soft news, notícias mais leves, e o Jornal da Record, focado no noticiário das hard news, a cobertura cotidiana de vários assuntos. Segundo ela, estar nesses dois tipos diferentes de programação é divertido e, ao mesmo tempo, desafiador: enquanto demanda uma grande flexibilidade do jornalista para se adaptar ao perfil do programa, também a ajuda a praticar diferentes formas de apresentar e entender com qual se identifica mais. “Eu gosto desse desafio. Eu acho desafiador gravar, duas vezes na semana, algo super relax. E aí eu me desligo um pouquinho na terça-feira para ser a Mariana do jornalismo sério. A empresa está me dando a possibilidade de me descobrir, de fato.” Mariana também apresenta a previsão do tempo aos sábados e relata que a equipe trabalha em conjunto com um meteorologista, que explica tudo a ela. A partir das explicações, sua tarefa é pesquisar sobre as previsões e repassar para o público de forma compreensível e fácil.


Perguntada sobre o que aconselha aos estudantes de jornalismo ou aos que estão ingressando no mercado de trabalho, Mariana falou da importância de ter foco e se aprofundar desde cedo na área que deseja seguir. E foi além: “Em qualquer formato, a gente tem que ser a gente. Se espelhar é lindo, eu acho muito importante. Mas você tem que ir se encontrando. […] Como você gosta de comunicar? É por aí. É ir se encontrando, que é o que estou fazendo até hoje”, aconselha.



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