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Apesar dos delírios de Becky, grandes lições

Atualizado: 26 de out. de 2023

Por Sophia Cunha


O filme no estilo Sessão da Tarde nos leva a refletir sobre o jornalismo e sobre uma aquisição de moda mais consciente


OBS: Contém spoiler



Rebecca Bloomwood repleta de compras
Rebecca Bloomwood é uma personagem que compra compulsivamente (Reprodução/Valor Investe)

Lançado em 2009 e dirigido por P. G. Hogan, Os Delírios de Consumo de Becky Bloom conta a história de uma jornalista que sente prazer em estourar seus 12 cartões de crédito, principalmente, com seu guarda-roupa. Os looks supercoloridos e cheios de personalidade da protagonista foram assinados por Patricia Field, uma das figurinistas mais renomadas do mundo. Talvez o mais interessante é que ela também já produziu outras jornalistas fictícias, como Carrie Bradshaw (Sarah Parker) de Sex and The City, além de Andrea Sachs (Anne Hathaway) e Miranda Priestly (Meryl Streep) de O Diabo Veste Prada.

A comédia romântica inspirada no livro homônimo de Sophie Kinsella começa quando Rebecca Bloomwood (Isla Fisher) vai atrás do seu sonho de trabalhar na revista Alette, enviando uma carta à editora-chefe. Porém, por ironia do destino, essa correspondência cai nas mãos de Luke Brandon (Hugh Dancy), editor do Economias de Sucesso. Ele fica encantado com a escrita de Becky e a contrata como redatora. Na coluna A garota da echarpe verde, Becky passa a ensinar, de forma criativa, lições financeiras (que ela mesma não segue).


O fazer jornalístico


Rebecca Bloomwood irá apaixonar seus leitores (e Luke Brandon) com suas abordagens. Ao fazer analogias entre moda e finanças, temas complexos, como os princípios do investimento, tornam-se simples de entender. Dessa forma, ela consegue atingir públicos que poderiam ter dificuldade na compreensão do linguajar econômico da revista.

Em um momento, Luke mostra como muitas empresas se aproveitam da falta de conhecimento das pessoas. Por isso, na visão dele, é importante que o jornalista pressione essas companhias, fazendo as perguntas certas, e esclareça todas as questões de maneira descomplicada, como a garota da echarpe verde faz.

Essa exposição clara de informações é essencial ao jornalismo. Porém, muitas vezes, o dinheiro torna-se parâmetro para o que é noticiado. Nesse contexto, Brandon apura sobre uma empresa corrupta, mas é indicado a não publicar sobre ela. “Não publica essa matéria. A companhia dele vale 2 milhões por ano para Dantey West [Publicadora de Alette e de Economias de Sucesso]”, fala Ryan Koenig (Fred Armisen), chefe de Luke.

Por isso, vale refletirmos até que ponto o que chega até nós não é apenas um interesse corporativo.


Autenticidade sem excessos


No longa-metragem, o ato de comprar, principalmente grifes, é colocado como uma grande experiência que molda a personalidade de Becky. Contudo, quando a personagem apresenta a diferença entre custo e valor, fica evidente como não são simplesmente o número de peças e a quantia gasta nelas que nos tornam estilosos. A própria Patricia Field já fez compras na 25 de março, rua paulista famosa por ter mercadorias baratas.

“Estilo não tem nada a ver com dinheiro; você pode não ter dinheiro e ter um ótimo estilo ou muito dinheiro e nenhum estilo. Estilo não é o que você usa. É como você usa. Se mostrar bonita e expressar como se sente”, diz Patricia Field em entrevista de divulgação do filme à Gazeta do Povo.


Patricia Field em sua indicação ao Oscar de 2007
Imagem: Patricia Field em sua indicação ao Oscar de 2007 (Reprodução/IMDB)

É muito comum nos encontrarmos na mesma situação da protagonista, que sempre acha precisar de um acessório novo para combinar com alguma roupa. A fim de evitar o consumismo, na hora da compra, devemos pensar se aquela peça consegue combinar com outras já existentes no nosso guarda-roupa. Dessa maneira, montamos um armário inteligente com possibilidades de composições muito diferentes entre si.

Entender nossa personalidade é um passo relevante para economizarmos, porque passamos a adquirir apenas aquilo que realmente nos representa. Assim, ficamos menos suscetíveis às rápidas tendências do mundo atual e reduzimos o consumo desenfreado de moda, que acaba por acelerar a degradação do meio ambiente.

Becky Bloom resgata o vintage, mostrando como é possível reintroduzir o que é antigo ao contemporâneo, ainda mais tendo em vista que a moda sempre traz referências de coleções passadas.

Os brechós e bazares, por exemplo, são uma alternativa que têm se destacado no Brasil por terem artigos únicos, de qualidade e acessíveis. Esses locais contribuem para a economia circular, pois a compra de segunda mão aproveita até o final a vida útil dos produtos, sem necessitar de uma produção excessiva de novos itens. Também é interessante trocarmos com nossos familiares e amigos, além de doarmos o que não cabe mais no nosso modo de vestir.

“Está disposta a dar dinheiro por coisas que não precisa. Então, o que acha de dar as coisas que não precisa por nenhum dinheiro? Nenhum!”, pergunta Srta. Korch, líder do grupo de apoio para compradores compulsivos que Becky faz parte.

De forma leve e bem humorada, o longa-metragem ilustra a noção ainda atual de consumo como algo intrínseco à vida. A protagonista, no entanto, consegue abrir seus olhos e de outras pessoas para essa realidade que sempre tenta nos levar à falência, como aconteceu com ela mesma. No final, quando ela se apaixona por Luke Brandon, o filme passa a mensagem de que, na verdade, o melhor investimento é naquilo que a gente realmente ama.


Luke veste a echarpe verde em Rebecca
Imagem: Luke veste a echarpe verde em Rebecca (Reprodução/ Pinterest)

“Ao invés de ter um relacionamento com meu cartão de crédito, eu tenho um relacionamento com alguém que me ama… e nunca me recusa.”

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