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Vogue tentou abordar o uso de roupas sem gênero e tornou-se alvo de críticas

O artista Billy Porter afirmou que Anna Wintour usou sua comunidade para se engrandecer na capa histórica da edição de dezembro de 2020


Aline Fernandes

Billy Porter usando um “smoking vestido” na premiação do Oscar em 2019. Foto por Frazer Harrison / Getty


No Oscar de 2019, Billy Porter chocou o público ao aparecer usando um “smoking vestido”. Apenas um ano depois, a discussão sobre gênero na moda foi abordada pela Vogue, ignorando a importância de celebridades porta-vozes dessa pauta, como Porter. Essa exclusão aconteceu na edição de dezembro de 2020 da revista americana, cujo editorial foi o primeiro da história a mostrar um homem sozinho em saias e vestidos. Para ilustrar o movimento, o cantor britânico Harry Styles foi o escolhido para a campanha.


“Precisei lutar minha vida toda para poder usar um vestido no Oscar e não ser morto. Tudo que o Harry Styles precisa fazer é ser branco e heterossexual. Ele não se importa com a causa. Isso é política para mim. Isso é a minha vida”, disse Billy Porter em entrevista publicada pelo jornal The Sunday Times.

Porter, renomado por seus papéis em Pose e na nova versão de Cinderella, foi um dos primeiros homens a usar vestidos em premiações. Ele destacou que figuras como a sua deveriam ser selecionadas como representantes nas discussões sobre moda não binária, pois essa temática, que ainda é considerada tabu, requer vozes autênticas e influentes.


A revista Vogue é internacionalmente considerada o meio de comunicação mais relevante e influente do mundo fashion. A editora-chefe desde 1988, Anna Wintour, tem o poder de ditar os conceitos que atingem a forma como os designers produzem suas coleções e o consumo ideológico pelo público. Ela apresenta o papel fundamental de construir e alimentar o imaginário coletivo através dos editoriais. Logo, se o discurso midiático proposto abrange uma questão sem a devida representatividade, há o silenciamento de quem realmente faz parte dessa diversidade.


Na mesma entrevista, Billy Porter revela que, antes da publicação da edição com Harry Styles, Wintour pediu seu conselho para uma inclusão mais ativa na revista. O artista a orientou para elevar as vozes dos líderes do movimento de desgeneralização da moda. Depois de seis meses, apareceu o ex-membro da banda One Direction como o primeiro homem sozinho em uma capa da Vogue, vestindo um movimento no qual ele não se encaixa.


Reprodução: Vogue


“Não é culpa de Harry Styles que ele é branco, fofo, hétero e se encaixa na infraestrutura dessa maneira. Mas não me parece bom. Você está usando a minha comunidade — ou sua gente está usando minha comunidade — para se engrandecer”, protestou Billy.

O setor de vestuário é um instrumento de comunicação, que vai muito além de tendências e simples peças. Ele é político. Através das roupas, é possível expressar um movimento social, um posicionamento e, especialmente, quem você é. As composições indumentárias articulam a identidade de cada um ao mesmo tempo que podem restringir a de pessoas marginalizadas quando há o mau uso da moda, inviabilizando a representatividade.


A moda é uma arte ainda controlada pelos meios tradicionais, como o Fashion Week e os veículos midiáticos convencionais. Então, existe um impasse para o desenvolvimento de campanhas inclusivas que não visem a comercialização de produtos, mas a conscientização acerca da evolução da sociedade.


A inclusão neste setor deveria proporcionar uma variedade de escolhas e celebrar a diversidade, enxergando uma oportunidade para atender às necessidades de um público cada vez menos preocupado com as tradicionais categorias de vestuário pautadas em feminino e masculino.


A crítica de Billy Porter não se dirigiu diretamente ao Harry Styles, mas para a forma que a abordagem foi feita pela Vogue. Nesse marco da inclusão em um meio tão privilegiado, era clara a escolha de alguém que vivesse a causa. O ativismo presente naquela edição não conversa com quem está representando, mas demonstra o uso de um discurso para vender a aparência da revista como adepta à valorização daqueles que tanto escondeu e reprimiu por anos.



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