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  • Foto do escritorPitacos

Uma ponte de afeto no caminho à escola

Júlia Motta


Diretora de colégio público em Manaus sai pelas ruas resgatando estudantes que tiveram que abandonar o ensino durante a pandemia.


Foto: Acervo pessoal


A pandemia escancarou diversos problemas sociais que enfrentamos no Brasil, mas que eram maquiados enquanto dava. A desigualdade no acesso à educação foi um dos problemas mais evidentes e um dos desafios mais difíceis com que tivemos que lidar nesse período conturbado. Muitas foram as escolas que atrasaram o início do ensino remoto e, mesmo iniciado esse “novo normal”, diversos alunos não tinham a mínima condição para assistir aulas online, seja porque não contavam com o equipamento necessário, seja porque tiveram que começar a trabalhar para ajudar no sustento da família, muito prejudicado pela falta de assistência governamental durante a pandemia.


A reportagem produzida pela revista Piauí, Faltam só 66 (uol.com.br), conta um pouco sobre essa luta que profissionais da educação enfrentaram e ainda enfrentam para não deixarem que seus alunos desistam da escola. Assim, a matéria traz o relato de Ji Suk Guedes, diretora do Centro de Educação de Jovens e Adultos Professor Paulo Freire, em Manaus, que saiu às ruas durante o retorno das aulas para resgatar alunos que foram vítimas da exclusão escolar.


Ji Suk começa contando o primeiro desafio que enfrentou com o ensino remoto: muitos alunos não tinham condições de acesso ao material didático disponibilizado online, muitos menos de assistirem às aulas ao vivo. Esse cenário era devido ao fato de que os alunos ou não tinham o equipamento necessário, como celular, computador ou tablet, ou quando tinham, esse não tinha acesso à internet. Infelizmente, não houve um efetivo auxílio financeiro, por parte do poder público, para que os estudantes conseguissem frequentar a escola remotamente. Assim, muitos tinham que escolher entre comer ou assistir à aula. Mesmo diante dessa difícil realidade, Ji Suk buscou forças para não desistir dos alunos, se fazendo sempre presente nos grupos de WhatsApp e correndo atrás de quem não participava, para tentar ajudar essa pessoa.


Mesmo com a volta do ensino presencial em Manaus, no dia 23 de agosto de 2021, o problema da falta de alunos ainda persiste, o que preocupa ainda mais os professores e diretores, uma vez que o ensino presencial é a forma mais acessível de comparecer às aulas. Dessa forma, o fato do aluno não retornar nem para essa realidade pode significar que ele realmente teve que desistir dos estudos pelos diversos problemas estruturais que enfrenta.


A diretora ainda relata sobre os diversos tipos de estudantes da escola: mães jovens, alunos que trabalham, alunos que moram tão longe da escola que tinham que ficar na casa de parentes, mas que com a pandemia tiveram que voltar para a casa e acabaram largando os estudos. Tudo isso agrava um antigo problema da educação brasileira: a evasão escolar. Alguns especialistas da área preferem o termo “exclusão escolar”, pois é o que realmente acontece com esses alunos, uma vez que eles são expulsos da escola, mesmo que indiretamente, pelos problemas que enfrentam fora dela e que dificultam seu acesso.


“A evasão escolar sempre foi alta no ensino de jovens e adultos. O aluno precisa estar motivado, precisa ter vontade de aprender, de concluir os estudos.” - Ji Suk

Diante desse cenário, Ji Suk tomou a decisão de buscar esses alunos, mostrando não só uma força, mas também uma empatia e um carinho gigantescos. A diretora, junto com os professores, saiu em carreata pelas ruas perto do colégio distribuindo panfletos sobre a volta às aulas. O marido de Ji Suk também ajudou nessa luta, usando seu carro para colocar uma caixa de som para que a diretora pudesse falar para todos ouvirem que a escola estava de braços abertos. Até a rádio local foi acionada para aumentar o alcance do chamado. Além disso, Ji Suk também realizou ações dentro da escola para cativar a presença dos alunos, sorteando cestas básicas e material escolar. O caminho é longo, mas faltam só 66 alunos e a diretora está empenhada em buscar um por um.


Essa reportagem vem nos escancarar não só os problemas do nosso país, mas também nos mostrar que ainda existem pessoas lutando para melhorá-lo, fazendo o possível e o impossível para levar o máximo de gente em direção a um futuro melhor. Nesse mês do centenário de Paulo Freire, nada mais significativo que a história de uma professora que luta pelos seus alunos e pela emancipação da educação.


Foto:Acervo pessoal


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