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“The banker was a spy” escancara os anos de silêncio dos EUA diante da ameaça russa

Com base nos documentos confidenciais, nove jornalistas mostram que a descoberta do espião russo era só a ponta do iceberg

Juliana Sorrenti

(Arte do Buzzfeed News brinca com a nota de 100 dólares, intercalando imagens de drogas, guerras, munições e barras de ouro/Imagem: Reprodução)


A recém-divulgada investigação dos FinCEN Files está abalando o mundo. Junto com o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) e 108 parceiros espalhados em diversos países, o Buzzfeed News obteve acesso a uma série de documentos confidenciais. Ao longo de 16 meses, mais de 400 jornalistas, entre eles nove brasileiros, trabalharam incansavelmente para revelar um lado obscuro e, até então, desconhecido, dos bancos. Do Ocidente ao Oriente, eles não pouparam ninguém: dezenas de instituições financeiras estão sendo acusadas de mover milhões de dólares para financiar graves crimes internacionais.


Publicada dia 20 de setembro, The banker was a spy é uma das descobertas intrigantes dessa investigação. De autoria conjunta entre nove jornalistas do Buzzfeed News, a reportagem explica, inicialmente, como um dos representantes do banco russo VEB foi revelado espião da SVR, agência de inteligência sucessora da famosa KGB. Interrompida a missão de descobrir os planos estadunidenses para as empresas russas no país, Evgeny Buryakov foi preso em 2015.


No entanto, para surpresa de muitos, a ameaça à segurança nacional já poderia ter sido contida e é, inclusive, mais grave do que parecia. Os milhares de relatos de atividades suspeitas, ou SARs, mostraram que a FinCEN – uma versão estadunidense do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) brasileiro – havia recebido dezenas de advertências ao longo dos anos sobre a atuação do banco russo, dos clientes, e, inclusive, do próprio espião. A partir da revelação, a matéria, que antes trazia informações previamente divulgadas, traz arquivos confidenciais para contar histórias novas ao leitor. A temperatura sobe e os repórteres mostram ao que vieram: investigar e apurar.


Focando no VEB – que, como é lembrado, mantém relações estreitas com o círculo interno de Putin e com o próprio presidente – os jornalistas desvendam os relatórios atrás de comprovação da ilegalidade do banco. Em meio a supervisores suspeitos, financiamento do regime de Assad na Síria, lavagem de dinheiro e possível venda de armas, os Estados Unidos foram repetidamente alertados dos riscos de negócios com o VEB por outros bancos e por senadores estadunidenses. Com um ritmo eletrizante, auxiliado pelos períodos curtos e pelo estilo direto ao ponto, a matéria instiga o leitor a entender como tantos crimes aconteceram sem a intervenção estatal do país mais intrometido do planeta. Mas, talvez, o “como” não seja a pergunta certa.


Provocativa em momentos estratégicos, a reportagem enfatiza a ineficiência do governo diante da magnitude das denúncias. Ao gerar certa inquietação em torno desse tema polêmico, ela consegue atingir até os leitores mais desinteressados, incentivando o lado curioso e questionador. De forma implícita, os repórteres nos fazem questionar quais são os motivos que levaram os Estados Unidos a fechar os olhos por tanto tempo. É impossível evitar que o “por quêe” domine os nossos pensamentos durante a leitura e, até mesmo, horas depois. Insistente e sem respostas, ainda faço a mesma pergunta. O desaparecimento do espião russo após a liberação da prisão aumenta ainda mais a sensação de que nem tudo foi esclarecido.


Outro ponto de destaque, esse mais prático, é a preocupação com a confiabilidade. Apesar do Buzzfeed News não ter divulgado oficialmente o nome da fonte que vazou os documentos, os hiperlinks são utilizados para confirmar cada um dos dados apresentados. Além de incluir as respostas dos bancos mencionados, a reportagem ganha ainda mais credibilidade com a apresentação dos próprios SARs que comprovam as movimentações financeiras suspeitas. Ao disponibilizar as informações sem cortes ao público, os repórteres criam uma espécie de relação de confiança com o leitor, o que, em tempos de fake news, é uma tática bem-sucedida para evitar possíveis ataques.


Scott Pham, Tom Warren, Jason Leopold, Anthony Cormier, John Templon, Jeremy Singer-Vine, Richard Holmes, Tanya Kozyreva e Emma Loop são os nomes que fizeram The banker was a spy possível. Juntos a outras centenas, eles marcaram o jornalismo investigativo deste ano. Ultrapassando as barreiras da lei, eles são um exemplo de coragem para os mais jovens, sem medo de criticar a maior potência do século XXI e apontar dedos para criminosos poderosos.


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