Na revista Elle Brasil, Ísis Vergílio mostra a ação inclusiva de Anne Magalhães com os surdos e propõe esse caminho para as reportagens
Alan Souza
A reportagem A arte de traduzir música para surdos, de Ísis Vergílio, publicada no site da Elle Brasil é como um sopro de esperança. No texto, é exposto o trabalho que a educadora e intérprete de Libras Anne Magalhães realiza em sua rede social e que, de acordo com o próprio título da matéria, se resume em interpretar canções para deficientes auditivos. Ísis Vergílio conta como a transmissão de emoções por meio da música, que vem desde a pré-história, é ressignificada, deixando de ser apenas sonora para ganhar forma no próprio corpo de Anne.
(Print da página da reportagem no site da Elle Brasil)
Os vídeos no Instagram de Anne Magalhães, por vezes, ultrapassam as 50 mil visualizações. Ela é um sucesso, além de ser descrita como “a potência no significado mais amplo da palavra”, segundo a reportagem. Isso porque sua rede social é porta de entrada para que outras pessoas possam sentir o “poder transformador” e provocador de bem-estar que uma boa música tem. Não é só a tradução literal que Anne oferece para seu público alvo, mas sim uma interpretação singular que invade o que o ser humano tem de mais íntimo. É uma “coletânea de emoções, que renovam esperanças e fazem o coração transbordar”.
A artista de 29 anos passou por algumas situações durante sua vida, que posteriormente se revelaram não serem apenas coincidências inusitadas. Por exemplo, seu primeiro contato com a língua de sinais foi na adolescência, quando ela e os amigos decoraram o alfabeto para se comunicarem em códigos. Surgiu então, a vontade de ter uma guitarra e para comprá-la passou a trabalhar, por indicação de seu pai, numa escola para surdos, onde aprendeu definitivamente Libras. Ali, posteriormente, estudou Artes Visuais para, em seguida, atuar como professora.
A reportagem de Ísis Vergílio tem todo o cuidado de detalhar como ocorreu a necessidade de Anne em traduzir música para surdos. Isso só acontece porque a repórter mergulhou nessa história inspiradora, imergindo em seus detalhes. Seu texto trata, inclusive, dos significados da transcriação, propagada pelo poeta e tradutor paulistano Haroldo de Campos, que consiste não apenas na tradução de palavras, mas na intenção delas. “A transcriação tem a ver com esse atravessamento, de tentar encontrar outras ferramentas visuais que não só a língua de sinais formal, trazer outros elementos visuais”, explicou a artista à Ísis.
Lendo o conteúdo da matéria é possível perceber as próprias emoções da jornalista com a história que contava. O uso de metáforas, por exemplo, é recorrente. Ou ainda quando, já no final, indica outros perfis na rede social que “podem colaborar para uma relação de maior proximidade e empatia com quem está ao nosso lado no dia-a-dia”, numa busca por mais inclusão. A escrita de Ísis revela uma dedicação não somente à reportagem, mas também às pautas sociais. Os surdos, quase sempre tão invisíveis, são mostrados como o público principal da arte de Anne. Afinal, é para eles que ela dedica as interpretações de diversas músicas, que vão desde “Como nossos pais”, de Elis Regina, à “Pesadão”, de Iza.
Estudantes de jornalismo têm a aprender com essa reportagem, justamente, por essa expressar o “fazer jornalismo” centrado em pessoas sem tanta visibilidade. Até mesmo porque o “poder transformador” antes mencionado não é conferido apenas à música, o jornalismo também tem essa função. Assim como em A arte de traduzir música para surdos, a comunicação pode se figurar como propagadora de histórias que trazem inspiração e que façam realmente a diferença na vida de alguém. O que Anne faz em seu Instagram representa não só um olhar para os surdos e os deficientes em geral, mas um direcionamento que a própria mídia precisa seguir e expor e que, vale lembrar, Ísis Vergílio cumpriu muito bem.
Link da reportagem no site da Elle Brasil: https://elle.com.br/sociedade/a-arte-de-traduzir-musicas-para-surdos
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