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Matéria: “EUA fazem de tudo para impedir negros e latinos de votar” revela práticas antidemocráticas

Reportagem do The Intercept Brasil explica os obstáculos de minorias nas eleições de 2020

Laura Rocha


Coronavírus. Black Lives Matter. Desigualdade social. Xenofobia. As disputas eleitorais estadunidenses de 2020, que trarão a reeleição do republicano Donald Trump ou a passada de bastão para o democrata Joe Biden, seguem marcadas por grande tensão sobre os rumos do país. Por isso, a manchete EUA fazem de tudo para impedir negros e latinos de votar, escrita por Cecília Olliveira do The Intercept Brasil, chama logo a atenção – ainda mais quando esses grupos, somados aos asiáticos e aos millenials (nascidos a partir de 1980), correspondem a 60% dos votantes.


(Matéria EUA fazem de tudo para impedir negros e latinos de votar - The Intercept Brasil / Captura de tela)


Após um título típico de uma matéria investigativa, o subtítulo é capaz de intrigar ainda mais, já que afirma que, apesar do grande número do eleitorado abordado, “eles não conseguem chegar nas urnas”. Sabe-se que votar não é obrigatório nos Estados Unidos (EUA), mas existe uma grande diferença entre não querer e não poder – e é a partir dessa questão polêmica que Cecília, no último dia 20 de outubro, trouxe a sua investigação acerca da disputa entre Trump e Biden.


Para se aprofundar no assunto, a jornalista contextualiza as eleições estadunidenses de 2016, que elegeram o republicano em vez da democrata Hillary Clinton. A disputa eleitoral foi alvo de denúncias sobre abuso do uso de dados pela Cambridge Analytica (escândalo explicado no documentário de 2019 Privacidade Hackeada), mas a reportagem mostra, a partir de dados e diferentes fontes para a pesquisa, que essa não foi a única estratégia de Trump para garantir o êxito da extrema direita nos EUA – e, neste ano, aparentemente, também não.

O ato de se aproveitar das desigualdades socioeconômicas e estruturais da sociedade estadunidense é a primeira delas para evitar os votos latinos e negros – mais direcionados aos democratas do que para os republicanos. De acordo com a reportagem do The Intercept Brasil, desde os documentos exigidos terem de ser pagos e o fato de não poder ter qualquer tipo de condenação para votar (até mesmo por infrações de trânsito) até a infraestrutura precária das zonas eleitorais de bairros com menos eleitores brancos e as mudanças repentinas de local de votação, há vários fatores que tornam mais difícil o voto dos mais pobres.

Joe Biden (à esquerda) e Donald Trump (à direita) - Reprodução/CNN


Só que a diferença social não pode se dissociar da desigualdade racial, uma vez que a discrepância de qualidade de vida, de escolaridade e de remuneração entre negros e brancos nos EUA escancara a marginalização da população negra. Esse cenário ainda foi intensificado depois que a pandemia do coronavírus aumentou as taxas de desemprego desses grupos marginalizados e afetou, majoritariamente, negros e latinos, já que têm três vezes mais chances de serem contaminados pela doença. Assim, deixar de ser remunerado por um dia não trabalhado, para poder votar, correndo o risco de ser demitido, não é um privilégio que muitos desses cidadãos podem usufruir.


Além disso, se o indivíduo negro optar por enviar sua cédula pelo correio, ele tem menos chances de conseguir que seu voto seja validado. De acordo com a reportagem, cerca de 40% de votos enviados por cidadãos autodeclarados negros, asiáticos e indígenas foram recusados (sem explicação legal definida pela matéria). Assim, eles são impedidos de exercer sua cidadania, sendo possível imaginar o real motivo.


“É preciso querer muito votar”, define Cecília, resumindo as dificuldades dos grupos minoritários nos EUA. Para piorar, ainda há as tentativas explícitas de fraudes eleitorais, como quando o Partido Republicano foi flagrado na implantação de urnas falsas na Califórnia e, sem muito remorso, declarou que continuaria a fazer isso.


Dessa forma, a fim de revelar as estratégias para supostamente tirar votos dos democratas, a jornalista do The Intercept Brasil usa várias técnicas, tanto digitais quanto analógicas, para informar ao máximo o leitor, com direito à enumeração de fatores para facilitar a visualização e a muitos hiperlinks. O texto ainda conta com frases de efeito escritas isoladamente em um parágrafo e com o uso de diferentes fontes de informação, contextualizando diversas questões relevantes para o período eleitoral, assim como para a compreensão dos desafios atuais dos EUA para que a democracia seja, de fato, exercida.


Por conta disso, a reportagem acerta na profundidade e na fluidez da linguagem jornalística, sendo um bom exemplo de “o que se fazer” como repórter para os futuros colegas de profissão, além de trazer atualidades necessárias para todos que pretendem trabalhar com a comunicação. Por fim, a matéria do The Intercept Brasil atinge seu principal objetivo: revelar o que está acontecendo na maior economia do mundo, em que a Estátua da Liberdade, localizada em Nova York, não traduz com exatidão as práticas governamentais neste ano.


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