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  • Foto do escritorPitacos

Doutor Castor: na frente das câmeras até detrás das grades

A postura da imprensa brasileira diante do maior bicheiro do país



Capa da série Doutor Castor, disponível no Globoplay. (Imagem: Reprodução/Globo)

Futebol, jogo do bicho e carnaval. Paixão, vício e festa. Dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. Palavras que resumem bem a série documental Doutor Castor, dirigida por Marco Antônio Araújo, que narra detalhadamente parte da vida de Castor de Andrade, o maior bicheiro do Brasil.


Ao longo de quatro episódios, a produção aborda desde a ascensão até a queda do contraventor. São apresentadas suas trajetórias como presidente do Bangu Atlético Clube e da Mocidade Independente de Padre Miguel, assim como seu envolvimento direto com o jogo do bicho.

Castor de Andrade no desfile campeão da Mocidade, em 1985. (Imagem: Reprodução/Globo)

A série mostra como Castor foi um sujeito muito polêmico, dividindo, até hoje, opiniões sobre sua pessoa. Nas entrevistas, os ex-jogadores do Bangu enaltecem o bicheiro, elogiando seu carisma e sua malandragem. Por outro lado, os intelectuais entrevistados apresentam duras críticas ao contraventor, destacando seu aspecto mais violento e sua relação com o crime.


No caso dos jornalistas entrevistados, são apresentadas opiniões divergentes. Há, sim, aqueles que, como os especialistas, apontam Castor de Andrade como um criminoso. Porém, alguns jornalistas preferem fazer vista grossa ao analisar a vida do bicheiro, valorizando suas conquistas no samba e no futebol, e dando pouca importância ao seu envolvimento com o crime e com a contravenção.


Trata-se de um reflexo da postura que a imprensa brasileira manteve diante do bicheiro durante sua vida. Embora não fosse segredo para ninguém a participação direta e indireta de Castor em diversos casos de violência, a mídia sempre o tratou como uma celebridade, ajudando a criar a imagem de um “bom cidadão carioca”.


Castor de Andrade é entrevistado por Jô Soares. (Imagem: Reprodução/Globo)

No ano de 1991, o contraventor chegou a ser entrevistado até por Jô Soares, em seu tradicional programa. Isso após já ter tido algumas passagens pela cadeia por pequenos crimes. Esse bom tratamento que Castor de Andrade recebia da imprensa aumentava ainda mais sua “certeza de impunidade”, termo usado pela juíza Denise Frossard durante sua entrevista na série. Foi ela, inclusive, quem julgou e condenou os principais bicheiros cariocas no ano de 1993.


Esse processo tem bastante destaque na metade final do documentário, e ocorreu poucos meses após um discurso de Castor durante o carnaval, quando alegou que os bicheiros estavam sendo perseguidos. Esse é mais um dos momentos em que o contraventor tem espaço para se posicionar livremente em rede nacional. Castor, mais uma vez, aproveita sua impunidade para promover a própria imagem.


Embora tenha sido condenado, logo após o carnaval, a seis anos de prisão, o bicheiro conseguiu, ainda no mesmo ano, sua soltura através de um habeas corpus. Entretanto, já no ano seguinte, Castor de Andrade voltou a ser procurado judicialmente.


Após passar alguns meses foragido, a presença do bicheiro foi denunciada em São Paulo, e ele foi transferido, de avião, para uma cadeia no Rio de Janeiro. E, até mesmo no trajeto entre uma prisão e outra, o contraventor foi acompanhado pela imprensa, sendo entrevistado por Aydano André Motta, jornalista que também participou de Doutor Castor.


Foragido em 1994, Castor passou a usar bigode como disfarce. (Imagem: Reprodução/Globo)

A série, disponível no Globoplay, é muito bem produzida e organizada, e deixa o espectador livre para interpretar como quiser a figura de Castor de Andrade. Afinal, não é simples tirar conclusões tão bem definidas a respeito de uma personalidade tão controversa. Porém, uma coisa é inegável: um homem, com o futebol em uma mão, e o carnaval na outra, foi capaz de passar três décadas cometendo crimes enquanto sorria para as câmeras.








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