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A Era do cancelamento: o novo normal?

Hellen Sacramento


O novo normal que muitos comentam é o retorno às atividades pós-pandemia, correto? Entretanto, também podemos usar esse termo para o costume recente que surgiu no Twitter: o cancelamento. Um dos filhos do linchamento - hoje, virtual - e o irmão da toxidade online. Juntos, eles tornaram a internet um lugar perigoso e deve-se ter cautela, se não, você acordará na manhã seguinte sendo cancelado, por causa do seu posicionamento. Já se tornou comum ver diariamente famosos ou influencers sendo cancelados e apedrejados virtualmente por suas opiniões. Pensando nas proporções globais que esses burburinhos trazem, de que maneira somos vistos, como comunidade? A partir da matéria da Luiza Pollo Todo mundo está de mal: o que a cultura do cancelamento diz sobre nós da Agência Eder Content em colaboração para o TAB (site pertencente a UOL) poderemos analisar.


Somos indivíduos únicos, plenos de sensatez e com personalidades antagônicas, mas ainda assim, reagimos de forma semelhante. Apesar de separados por grupos sociais e valores opostos, no ambiente online muitos se aproximam para propor uma justiça social que difere do esperado. Iniciou-se como um meme e depois entrou para a rotina dos "canceladores", por assim dizer, prescrito para acontecer sempre que houver um novo assunto no ar. Após alguns dias de muito chamarisco os ânimos se acalmam e o cancelado volta a vida de costume e não se tem lembranças dos motivos de sua participação dentro dessa redoma tóxica.

(Print de um tweet da cantora Glória Groove criticando a cultura do cancelamento)


As razões que podem estar relacionadas a essa falta de empenho em manter os assuntos no topo foram explicados pela matéria da Luiza Pollo. A jornalista trouxe alguns especialistas nas áreas de direitos das mulheres e da psicologia para explicar como essa onda de cancelamentos tem afetado as nossas vidas particulares e sociais. Uma das entrevistadas, Loretta Ross, especialista em direitos das mulheres, não é contra apontar ações e discursos preconceituosos, mas defende que o linchamento virtual não é a melhor maneira de apontar os erros alheios. Ela indica que existem outras maneiras de se fazer justiça social, sem precisar ofender os outros.


Com um adendo ao texto, a repórter utiliza o relato da doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Fabiane Friedrich Schultz, que no início da entrevista aponta que esse típico comportamento diz muito sobre a nossa necessidade - como grupo - de pertencimento. De sentirmos o dever de nos aproximarmos de pessoas que têm as mesmas ideias. Essa atitude busca reforçar uma identidade, sendo ela positiva ou não. Então todas as vezes em que apontamos um famoso, o colocamos em situação de evidência, consequentemente despersonalizando a pessoa. Por conta disso esquecemos que a figura pública também é um ser humano como nós, e temos mais dificuldade de sentir empatia pelo fato do indivíduo ser famoso. Infelizmente, só nos solidarizamos com quem temos proximidade sentimental, com familiares e amigos próximos, ou quando nos enxergamos nas vivências de outros, mesmo que desconhecidos.


Após diversas explicações, temos ciência de que não é aconselhável expor as pessoas por seus erros, consequentemente desmoralizando-as publicamente, por estarem em um processo de aprendizagem que todos um dia já estivemos ou vamos passar. Entretanto, seria válido que as pessoas exigissem um pedido de desculpas do culposo, como propõe Loretta, somente quando as acusações fossem embasadas em discussões e teorias relevantes, de modo a criar debates construtivos de aprendizagem tanto para o acusado quanto para outros. Mas, se o foco principal do cancelamento for julgar falas que ofendem particularmente alguém, ou é simplesmente motivado pela pessoa ofendida não simpatizar com a julgada, estamos no caminho errado. Todos estamos propícios a errar, sendo em discursos mal interpretados, falas infelizes ou quando intencionalmente reproduzimos expressões carregadas de preconceitos. E também estamos dispostos a aprender diariamente com nossas falhas sem ficarmos em uma posição inferior.


Por meio dessa matéria, a repórter consegue transmitir com a sua escrita como nos falta compreensão e tolerância, trazendo exemplos e utilizando comparações. Como os casos de alguns famosos que tiveram seus episódios de cancelamento, como a Anitta, que durante um show convidou ao palco o cantor Nego do Borel, que estava sendo acusado de fazer comentários transfóbicos no Instagram. Mesmo após tantos escândalos, a cantora continua sem reconhecer seus erros e frequentemente comete outros, um mais grave do que o outro. Já em um caso internacional, Kevin Hart que se negou a pedir desculpas por tweets homofóbicos feitos em 2016, foi dispensado de ser o apresentador da cerimônia de 2019 do Oscar devido aos milhões de comentários contra o comediante. Um dos pontos mais interessantes é a forma que a jornalista decide abordar a existência dos defensores - os fiscais - e os críticos dessa cultura, mostrando os dois lados da história. Isso torna a linha de informações bem clara e fluida e também com explicações muito úteis dos especialistas.


Não adianta sermos jovens com opiniões e personalidades estabelecidas, a frente de nosso tempo, mas que no primeiro erro do vizinho julgam, apedrejam e cancelam. Muitos deles têm costumes de compartilhar publicações de empatia e amor ao próximo nas redes sociais, mas que no mesmo click ou like tudo muda. A internet se tornou um tribunal com acusações frequentes e réus, decorrentes de uma comunidade que primeiro esbraveja e só escuta depois. Isso é o oposto do esperado, já que vivemos no século XXI, e, por ordem lógica, deveríamos evoluir e não retardar. Porém, o júri virtual tem sido cruel, e nem sempre justo. Agora, comportamentos opressores e discursos intolerantes não cabem mais.


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