"Take your pills" explora os aspectos sociais de uma contemporaneidade que não consegue reagir à decepções.
Larissa Nascimento
Ao longo dos anos, a ciência nos proporcionou uma diversidade de conhecimento sobre produtos medicinais e, com isso, conseguimos melhorar a nossa saúde. No entanto, com o surgimento do capitalismo, o que era para ser um benefício, passou a ser um meio lucrativo. Ou seja, as grandes empresas não querem mais cuidar do bem-estar dos indivíduos, mas sim, ganhar dinheiro "em cima" de quem passou a ter um vício nesses "milagrosos" medicamentos. Quais são os impactos das drogas lícitas em nossas vidas? Essa e outras perguntas são respondidas no documentário "Take your pills", dirigido pela americana Alison Klayman para Netflix. O longa explora os pontos positivos e os negativos do uso frequente de medicamentos psicoestimulantes, especialmente, o Adderall - foco do debate.
(Imagem: Reprodução)
Na introdução, os telespectadores são surpreendidos com pessoas relatando os efeitos das medicações que, por sinal, aparecem em poucos minutos. As chamadas alarmantes das primeiras cenas foram cruciais, porque, ao captarem a adrenalina nos olhos dos dependentes, conseguiram prender a atenção do público que, por sua vez, ficou interessado em entender toda aquela emoção. Outro ponto importante é que, apesar da película contar com a participação de jovens e, por isso, apresentar uma linguagem menos formal, transmitiu, ao mesmo tempo, um "olhar" mais técnico e profissional sobre os assuntos debatidos. Por outro lado, mesmo com cuidado ao expor os fatos, a narrativa é capaz de trazer à tona alguns sentimentos, entre eles: aflição, entusiasmo e insegurança. Sendo assim, nem todo mundo pode ver, posto que se torna um gatilho, sobretudo, para quem sofre com o consumo desses entorpecentes.
A produção exibe assuntos que despertam o interesse não apenas do público jovem, mas, também, do adulto. Isso porque, na contemporaneidade, todos os indivíduos almejam quebrar suas próprias expectativas, logo, não admitem imprevistos, em outras palavras, não conseguem encarar situações que passaram da "linha de conforto". Outro ponto negativo é que a maioria dos entrevistados retratam o Adderall como uma boa solução para melhorar o desempenho, seja ele profissional ou acadêmico. A pessoa que assiste, especialmente se for um adolescente, acaba "alimentando" o desejo pelo medicamento, afinal, quem não quer se sair bem em avaliações importantes? Dessa forma, o filme acabou falhando na responsabilidade com o telespectador, pois a classificação etária é de 14 anos, e por se tratar de uma temática relacionada às drogas, deveria ser maior.
Posteriormente, alguns universitários chegam a confessar que já naturalizaram e nem lembram que é ilegal comprar os medicamentos sem prescrição médica, uma vez que encontram com facilidade vendedores clandestinos em grupos de mensagens. Sempre tentando passar o lado bom do uso desses psicoestimulantes, os depoimentos chocam, visto que muitas pessoas acabam incentivadas por amigos, acreditando nos poderosos "benefícios". "Você quer ser linda e magra, ter notas incríveis, mas também quer poder sair, e o Adderall proporciona tudo isso", assim, manifesta uma usuária.
Apesar das problemáticas mencionadas anteriormente, com um "ar" de suspense, o documentário consegue envolver o telespectador, esse que se sente, muitas vezes, representado nas declarações dos entrevistados. Isso se deve pela forma criativa em manter um cenário de curiosidade durante os oitenta e sete minutos de conteúdo. Por fim, é um filme interessante para discutirmos sobre a sociedade extremamente competitiva que vivemos, onde vigoram aqueles que sobressaem, causando pânico e medo em pessoas que, por razões da vida, não conseguiram alguma realização marcante, e que se sentem frustradas por não serem vistas como alguém que se saiu bem profissionalmente. Para maiores informações, assista à produção.
Disponível em: Netflix.com
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