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"Newsgames": se não pode vencê-los, junte-se a eles

Atualizado: 17 de mai. de 2021

Com destaque para a indústria brasileira, jogos inspirados em notícias auxiliam o jornalismo na função de informar

José Mário Curvo e Ferraz Santos


(Foto: Reprodução/Manual dos Games)

Newsgames são uma mistura de duas palavras da língua inglesa: news(notícia) e games(jogos). Mas, como notícias e jogos eletrônicos se relacionam? De fato, este gênero não é ensinado nas faculdades de jornalismo. Mas o pitacos! é cool e criou uma área dedicada única e exclusivamente para a postagem de resenhas sobre newsgames, produzidos em qualquer país. Assim, o leitor pode não só ficar antenado com as novidades, mas também ler críticas sobre os melhores jogos de jornalismo, além de conhecer a bibliografia sobre o assunto. Seguindo o ditado, nós estamos simplesmente nos juntando a eles.


Antes de navegarmos no universo dos newsgames, vale recomendar a leitura do excelente artigo Newsgames: que relação pode haver entre jogos e notícias? da especialista Nicolly Vimercate. Atualmente na Editoria da Techtudo, a ex aluna da ECO(Escola de Comunicação) da UFRJ produziu esse trabalho com auxílio da professora Cristiane Costa e você confere o texto clicando aqui.


Com 70% dos brasileiros conectados à internet e uma queda de 10% na circulação de jornal impresso no ano de 2019, o jornalismo foi obrigado a se adaptar a essa nova realidade virtual. Os textos precisam além de serem dinâmicos e objetivos, precisam contar com mais elementos capazes de prender a atenção do leitor. Dentro dessa perspectiva, surgem os newsgames, em uma aliança entre jornalismo e games.


Os newsgames são jogos sobre notícias ou acontecimentos, cujo objetivo é passar informações complexas ou oferecer uma nova visão do fato noticiado. Vale ressaltar que esses games também são digitais, pois não precisam de consoles para serem jogados, apenas um smartphone ou computador já viabiliza a gameplay.


Além disso, esses jogos em geral não demandam muito tempo de produção e, consequentemente, não há gráficos muito evoluídos. Há dois motivos para isso. O primeiro envolve a logística do jornalismo. É preciso lançar o newsgame no momento certo, o famoso timing, ou seja, quando o fato ainda está quente. O segundo está no conceito desses jogos digitais. O foco do desenvolvedor não é jogabilidade ou gráficos, mas apenas informar o leitor.


Em vez de apenas ler uma reportagem, o internauta pode, com os newsgames, navegar dentro da notícia. Assim, os newsgames conseguem cativar a interação do chamado “novo leitor”, isto é, aquele que se move pela narrativa e participa ativamente da construção do texto, de acordo com a obra “O papel do leitor nas configurações das narrativas digitais” de Marta de Castro Nery e Ana Isabel Veloso.


A partir dessa parceria com os os jogos digitais, é possível não só prender o leitor, mas também atrair um novo público, sem familiaridade com os meios tradicionais de informação. Além disso, segundo o artigo da especialista Nicolly Vimercate, os newsgames teriam a capacidade de aumentar em 30% a percepção de informação e ajudar o leitor na tomadas de decisão no seu cotidiano, por conta dos prós e contra mostrados em uma simulação.


Diante dessas vantagens, os jogos jornalísticos são uma alternativa para impulsionar o engajamento sociopolítico, principalmente, da chamada Geração Y, ou seja, dos indivíduos nascidos após o surgimento da Internet. Segundo o especialista Miguel Sicart, em seu texto “Newsgames: Teoria e Design”, os newsgames podem incentivar o debate político entre os gamers ou até auxiliá-los na moldagem de opinião acerca de um determinado tema.


Para tanto, os jogos retratam a realidade de fatos com entendimento complexo ou com uma nova visão acerca do assunto, muitas vezes buscando fugir do senso comum. Um exemplo disso, é o game francês September 12th, uma alusão ao dia seguinte ao atentado do 11 de setembro. No jogo, o jogador deve atirar em terrorista, mas uma das consequências é a destruição da cidade e, por consequência, a morte de civis. Logo, a mensagem passada é clara: não devemos combater o terrorismo com a mesma violência.


Os primeiros newsgames surgiram em 2003 e, rapidamente, figuravam nos maiores portais do mundo. Um dos pioneiros foi o portal espanhol El País com o jogo Play Madrid, em seguida os jornais estadunidenses New York Times e a CNN também embarcaram nessa aventura.


No Brasil, o primeiro jogo jornalístico foi produzido pelo portal Uai, em 2008, e tem o nome de Jogo das Eleições. Logo depois, os jornais Estado de São Paulo e O Globo, o site G1 e a revista Veja começaram a produzir newsgames. Mas, o destaque nacional no desenvolvimentos desses jogos digitais é o site da revista Superinteressante.


Além de ser um dos maiores produtores desses games, o portal lançou o famoso Filosofighters, um newsgame que reproduz uma batalha de ideias de grandes filósofos, impulsionando diversos conceitos da filosofia. O jogo foi elogiado pelo site britânico PC Gamer, recebeu prêmio e foi um sucesso ao redor do mundo.


  • Gêneros de Newsgames

Sim, esses “jogos jornalísticos” podem ser subdivididos em diversas categorias, mais especificamente oito. Essa classificação foi proposta pelo acadêmico Ian Bogost et al, no livro Journalism at Play, para facilitar o entendimento sobre o assunto


1. Eventos recentes → São jogos com a temática de acontecimentos polêmicos factuais e com destaque na mídia. São subdivididos em duas categorias:


1.1 Editoriais → Jogos com caráter argumentativo e persuasivo sobre determinado tema factual. Como o nome já remete, segue-se uma linha editorial. O game September 12th é um claro exemplo dessa modalidade


1.2 Tabloide → Trata-se de jogos baseadas em notícias de comportamento polêmicos, principalmente de pessoas públicas. O fato retratado precisa estar quente na mídia para o jogador ter conhecimento e, com isso, garantir mais cliques no site. Um exemplo desse estilo seria o jogo Rooney on the Rampage, onde o internauta controla o jogador de futebol Wayne Rooney e agride o astro Cristiano Ronaldo. O game foi lançado após o português, supostamente, informar o juiz sobre uma agressão do atleta inglês a outro jogador lusitano, o que resultou na expulsão do britânico.


2. Reportagem → São os newsgames mais raros devido à necessidade de longo tempo de produção. Neles, o jogador é colocado dentro de uma simulação de uma determinada cena descrita. O fato retratado já aconteceu e foi encerrado, mas, por determinados fatores,está de volta na mídia. O jogo Cutthroat Capitalism é um exemplo desse gênero, pois ele retrata a ação de piratas na Somália como um todo e não apenas das empresas prejudicadas.


3. Infográficos → Nesses jogos é possível simular realidades ou situações, baseadas em informações de fatos reais, com o auxílio dos gráficos informativos, muito usados no jornalismo. Basicamente, o jogador brinca com os dados. Um exemplo seria o game Como funciona a bateria da escola Grande Rio, do site IG. O jogador pode comandar o samba no jogo e, assim, compreender a dinâmica de um desfile de uma Escola de Samba no Carnaval.


4. Documentários → Nesse gênero, os jogadores são inseridos em uma determinada situação, em um lugar e uma época pré-estabelecidos. Com a reprodução do espaço, é possível documentar uma visão que seria impossível de retratar em texto. O jogo Newsgame: manifestações de junho reproduz os protestos populares contra o aumento da passagem dos ônibus no ano de 2013. O jogador pode ser um estudante, um jornalista ou um policial durante a manifestação e, a partir disso, entender a visão de cada um desses personagens. Com essa simulação, o objetivo é auxiliar o internauta a se posicionar diante às diversas opiniões divergentes.


5. Puzzles → Talvez o jogo mais familiarizado no senso comum, esses newsgames buscam impulsionar o raciocínio lógico a partir de quizzes e outros jogos. Eles games servem como exercício para memória das pessoas. Um exemplo disso é o quiz O nome é estranho, mas a operação é de verdade. Você sabe qual foi o objetivo?, do Portal R7. Nesse newsgame, o jogador deve adivinhar quais eram os propósitos de determinadas operações policiais inusitadas.


6. Educativos → Esses são mais relacionados ao jornalismo. Esse estilo oferece informações diretas ou indiretas de como exercer corretamente a profissão de um jornalista. O jogador é convidado a simular o processo de produção de reportagem, o que pode ser classificado como uma atitude do chamado jornalismo-cidadão. Dentre os exemplo desse gênero, destaca-se o game Global Conflicts: Palestine, no qual o jogador incorpora um jornalista na zona de guerra da Palestina e precisa entrevistar civis para produzir uma reportagem. Diante essa simulação, o gamer pode entender algumas reflexões importantes da atividade jornalísticas, como a imparcialidade da mídia.


7. Comunidade → São newsgames voltados para a formação de grupos virtuais. Os jogadores se conectam via Internet e buscam a solução de um determinado problema. Mostrando, assim, um estímulo ao debate e ao engajamento dos gamers. Um exemplo desse gênero é o jogo Picture the Impossible. Nele, vários internautas ao redor do mundo precisam solucionar enigmas noticiados pelo jornal (e produtor do game) Rochester Democrat and Chronicle. Para isso, os jogadores foram divididos em grupos e, ao final, os gamers poderiam conhecer melhor a cidade de Rochester, nos EUA, a partir da economia, cultura e informações locais.


8. Plataformas → Nestes newsgames, os jogadores precisam visualizar as notícias para alcançarem seus objetivos. Talvez, o exemplo mais conhecido desse gênero é o Fantasy Game Cartola FC, do Grupo Globo. Nele, os jogadores montam seus times com jogadores reais do Campeonato Brasileiros. É possível vender, comprar e escalar atletas dos 20 times do Brasileirão. Mas, para ir bem no game, é preciso acompanhar as notícias dos jogos, pois a pontuação é baseada no desempenhos dos jogadores de futebol profissionais em campo.


Logo, os newsgames representam mais uma mudança necessária do jornalismo para se adaptar à nova realidade virtual. É a união perfeita entre jogos e notícias. O saldo dessa junção? Positiva. Veículos de comunicação atraem novos públicos, há maior absorção das informações pelo leitor e aumenta-se a capacidade dos indivíduos de tomar decisões no cotidiano. Aparentemente, boa parte da mídia percebeu a importância dos videogames e decidiu-se unir a eles, em vez de atacá-los, porque, dificilmente, conseguiria superá-los. Bem, é o ditado: “se não pode vencê-los, junte-se a eles”.


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