Por Grazielli Fraga
(Joseph Pulitzer / Imagem: Biography)
Abrindo a editoria de jornalistas importantes para a história da profissão nos séculos passados, temos Joseph Pulitzer, personagem reconhecido mundialmente como um revolucionário do jornalismo impresso.
Nascido em Mako, na Hungria, em 1847, filho de judeus, Joseph Pulitzer tinha o sonho de ser um militar prestigiado. No entanto, apesar da ambição, não ingressou no exército de seu país em razão da sua saúde muito frágil. Logo, imigrando para os Estados Unidos, conseguiu entrar para o exército, em 1864, e lutou ao lado de vários jovens americanos da União no meio da caótica Guerra Civil. Desde então, o jovem húngaro desenvolveu o seu amor pela política, crítica e, claro, o jornalismo.
Vivendo em St. Luis, Missouri, trabalhou como garçom, coveiro, marinheiro e cuidador de mulas. Apesar da fluência em francês e alemão, Joseph teve problemas em se adaptar ao inglês. A dificuldade o levou a estudar a língua na Mercantile Library, biblioteca local, e, inteligente como era, não demorou a conseguir uma vaga no Westliche Post, jornal alemão diário localizado em Missouri, EUA. Com o passar dos anos, seu inglês tornou-se impecável e ele ficou conhecido como “o jornalista incansável'', devido a sua fome por notícias, expandindo, cada vez mais, a sua fama.
Usando suas economias, Pulitzer comprou, em um leilão, o St. Louis Dispatch e o The Post, que logo após se juntaram no Dispatch-Post. Ambicioso, o jornalista conseguiu alavancar as vendas e a fama dos jornais quase falidos, formulando matérias recheadas com informações sobre a corrupção do governo, roubos de impostos, polêmicas em grandes empresas e fraudes em seguradoras e bancos. Ninguém escapava do seu faro jornalístico.
“Só há uma maneira de manter a democracia em pé, [...], mantendo a população informada sobre o que está acontecendo.”
Tendo a cada dia mais dinheiro, o habilidoso Joseph comprou novamente um jornal, o New York World, por mais de US$ 300 000. Buscando atrair o olhar do público, foi o responsável por mudar a estética dos jornais impressos, utilizando os espaços de maneira mais inteligente e marqueteira. Mudou o logotipo, ofereceu promoções aos leitores, colocou ilustrações, brincou com as fontes das letras, o magnata conseguiu deixar os jornais bem mais agradáveis de serem lidos, ao olhar do leitor.
(Prédio do New York World, construído em 1890, localizava-se na Rua Park Row, demolido em 1955 / Imagem: Library of Congress)
Uma das maiores polêmicas do jornalismo exercido pelo magnata foi o processo recebido pelo então presidente Theodore Roosevelt. Pulitzer, e seus repórteres, escreveram uma matéria no The World acusando Roosevelt de beneficiar indevidamente, a famosa corrupção, certas empresas, na construção do Canal do Panamá. O morador da Casa Branca, obviamente, não deixou barato e o processou. Para a felicidade de toda a imprensa da época, o jornal foi inocentado pela Suprema Corte. Foi um marco para a história da liberdade de imprensa, tendo vários jornais classificando o episódio como uma “Grande Vitória para a Liberdade de Imprensa” e “um marco, uma das garantias fundamentais da contínua liberdade de imprensa”, segundo o especialista em leis, Michael Gibson.
(Edição do jornal New York World publicada em 30 de outubro de 1884/Imagem: Harvard Business Review)
No entanto, na década de 1890, devido à rivalidade com o New York Journal, de William Randolph Heast, além de baixarem os preços das edições para um centavo de dólar, as matérias passaram por um período muito sensacionalista. Visando conseguir maior público, Pulitzer publicava notícias cada vez mais escandalosas, falando sobre celebridades, crimes, sexo e atiçando a raiva do público contra a Espanha, que na época lutava contra Cuba, na famosa Guerra Hispano-Americana. Nas edições de domingo, o famoso “Yellow Kid” aparecia nas páginas recheadas de sensacionalismo e títulos chamativos. Assim surgiu o nome “yellow journalism”, ou “jornalismo amarelo”, usado, atualmente, de forma pejorativa para matérias mais sensacionalistas do que o aceitável. No Brasil, o adjetivo virou "jornalismo marrom", para lembrar esgoto.
(“Yellow Kid” na edição de 9 de janeiro de 1898/Imagem: Ohio State University)
Em 1887, Pulitzer teve que se retirar do gerenciamento dos seus dois jornais devido à piora no seu estado de saúde. O jornalista passava a maior parte do tempo no seu iate, denominado “The Liberty”, ou, em português, “A Liberdade”, ancorado em Charleston, Carolina do Sul. Sofrendo com a baixa visão e distúrbios nervosos, o magnata morreu em 1911, em seu iate, com 64 anos.
No seu testamento, datado de 1904, e que pode ser lido em partes aqui, Joseph destinou 2 milhões de dólares para a criação da Faculdade de Jornalismo na Universidade de Columbia, fundada um ano após a sua morte.
(Icônica medalha de ouro do Prêmio Pulitzer. Oferecida somente à organização de notícias vencedora do prêmio “Serviços Públicos”. De um lado, há o busto de Benjamin Franklin, do outro, um trabalhador da prensa/Imagem: Pulitzer Prizes)
O jornalista dá nome ao prêmio Pulitzer, devido ao seu desejo prescrito no testamento de presentear jornalistas que se destacassem com a profissão. Atualmente, o prêmio sugerido pelo homem com “interesse no progresso e na elevação do jornalismo, [...], considerando a profissão como algo nobre e sem igual importância”, é o mais importante do ramo no mundo, com edições anuais desde 1917. A premiação tem categorias destinadas ao áudio, investigação, fotografia, melhor furo jornalístico, além de categorias para livros de ficção, drama e música.
Dessa maneira, quase com uma crença religiosa na democracia e no jornalismo, Pulitzer convenceu a população dos Estados Unidos de que seus dias não estariam completos se eles não lessem os seus jornais. O ambicioso Joseph Pulitzer conseguiu revolucionar o jornalismo mundialmente, tendo sua influência perpetuada para toda a história da profissão.
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