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Do bicho às milícias: a história da contravenção carioca retratada em Lei da Selva

Atualizado: 15 de jun. de 2022

Pedro Guevara


Capa do documentário no streamer Globoplay (Imagem: Reprodução)


Jogo do bicho, máquinas caça-níqueis, milícia. Carnaval, política, leis. Contravenção, patronato, crimes. A história do Rio de Janeiro tem elementos dignos de um roteiro pronto para Hollywood filmar. Esse emaranhado de história, cultura e crimes é o fio condutor da série documental Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho, recém-lançada pelo Canal Brasil e também disponível no Globoplay.


As histórias da cultura popular carioca são o foco dos dois primeiros capítulos, “O Bicho Pegou” e “O Bicho é Pop”. Desde o processo de “europeização” da cidade, passando pela criação do jogo do bicho no século XIX, pelo Barão de Drummond e chegando ao período de perseguição do poder público ao entretenimento da população pobre, a obra mostra, desde o início, riqueza de conteúdo histórico e pesquisa, além de diversos entrevistados, a grande maioria jornalistas.


A contextualização inicial leva o espectador ao Rio da segunda metade do século XX, já com o bicho em seu auge. O mapeamento do jogo mostra como o município foi alvo da contravenção, com disputas sangrentas entre os diversos bicheiros. Entre eles, é claro, está Castor de Andrade, protagonista de outra série também realizada recentemente pelo Grupo Globo, Doutor Castor. Diversas imagens utilizadas em Lei da Selva também apareciam na na série sobre Castor.


Capa do documentário no streamer Globoplay (Imagem: Reprodução)


Na transição da primeira para a segunda metade, o centro do roteiro é o carnaval carioca, que a partir da década de 70 foi tomado pelos banqueiros do jogo do bicho, tendo sua imagem inevitavelmente atrelada a estes desde então. Com um passeio por desfiles históricos e pelo crescimento de escolas centralizado no poder econômico dos bicheiros, o documentário mostra como, apesar de a história da cultura popular inegavelmente se entrelaçar com a do crime, é indiscutível a importância de reconhecer o mundo carnavalesco como patrimônio cultural fundamental para a memória histórica não só do Rio de Janeiro, mas do Brasil.


Os dois últimos episódios da série, “Enjaulados” e “Pátria Armada”, trazem um panorama do estágio seguinte da contravenção, que resultou na guerra e no caos de violência vividos pela cidade já há algumas décadas. Primeiramente com a troca de geração da cúpula do jogo, exemplificada na família Garcia, com os “negócios” de Miro sendo assumidos por Waldomiro Paes Garcia, o Maninho. Essa renovação não se deu apenas na idade dos comandantes do crime, mas também na forma de atuação, com o jogo sendo substituído pelas máquinas de jogos de azar, fliperamas, etc.


Já em um segundo momento, faz-se a ligação entre todo o contexto de negócios criminosos no fim do século XX e a atual contravenção – as milícias. A escalada do crime é contada de maneira cronológica, partindo do período de redemocratização do país e chegando até os tempos atuais, quando nomes e eventos presentes no noticiário ao longo dos últimos anos, como Adriano da Nóbrega e o assassinato da vereadora Marielle Franco, são citados e conectados com todo o processo.


O foco da parte final do documentário é o completo colapso da segurança pública, narrado a partir do crescimento do de Rio das Pedras (bairro que se expandiu com a chegada de policiais que inauguraram a prática criminosa), expondo a obrigatória relação entre esse tipo de crime e setores das instituições públicas. Toda a complexidade do assunto, muitas vezes tratada de maneira rasa pela sociedade, é abordada com maestria pela série, que consegue narrar, descrever e documentar fatos por meio de uma produção jornalística interessantíssima e com uma riqueza rara de conteúdo.


Serviço: Globoplay

Série: Lei da Selva - A História do Jogo do Bicho

Diretor: Pedro Asbeg

Duração: 4 episódios

Onde ver: Canal Brasil e Globoplay


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